quinta-feira, 20 de dezembro de 2012
quando o criacionismo abrange apenas EVA e eu digo amém…
segunda-feira, 1 de outubro de 2012
“oVo Bárbaro”: uma fotonovela de uma pessoa incomum–minha aventura no humor
Hoje, recebi a visita de um dos meus melhores amigos.
"oVo Bárbaro".
Aliás, ele sempre me cobrava que eu nunca tinha lhe convidado para conhecer minha casa...
Ansioso como sempre, "oVo Bárbaro" foi correndo conhecer a vista da sacada.
Ficou todo satisfeito quando lhe ofereci bebida...
Entretanto, "oVo Bárbaro" pensou ser suco... de uva...
Aliás, ele tem um histórico raro de alcoolismo com suco de uva... caso raro.
Sua mãe, coitada, nunca sabia quem secava aquelas garrafas...
Mas, deu as costas ao White Horse.
"oVo Bárbaro" cuidado... ahhhhh... - vai que gosta… -
Horse = Cavalo...
"oVo Bárbaro" marejou os olhos, quando, curioso, identificou meu gel de cabelo...
Lembranças difíceis, jovem com 20 e poucos anos, que viu todo o pelo cair...
- Acontece amigo!
- Alguém já achou pelo em ovo?
Para distrair, liguei o som. E, ainda com os olhos marejados pela visão do gel, e uma invejinha básica de meus fios lisos e abundantes, "oVo Bárbaro" pediu que abaixasse o volume...
Não conheço ninguém que trabalhe tão bem com protetor auricular...
E, comum, ficou satisfeito demais quando lhe ofereci um Ferrero Rocher...
Difícil achar uma pessoa que goste tanto assim de chocolate...
Talvez, seu sonho deva ser "ovo Bárbaro de páscoa"...
ahhhh...
E, sério, apesar de toda a minha galhofa, esta é uma homenagem a um amigo.
Tão importante para minha lucidez.
Mal sabe ele, o quanto ele trás serenidade para minha postura desequilibrada.
Se, um dia, nossa amizade for carregada pelo coelhinho da páscoa, dos nossos destinos, quero que saiba: tenho plena certeza que é um raro amigo de verdade.
E, entre nossos espasmos de conflito e afago, de nossos conceitos mais diversos e, proporcionalmente próximos, de todas as farpas, de toda a admiração… resta algo tão simples como um abraço. Apertado. Amigo.
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Eu sabia que um dia esse texto iria surgir.
Mas nunca imaginei que seria uma fotonovela cômica.
Obrigado por tudo Sr. Bárbara, aliás, “oVo Bárbaro”.
domingo, 23 de setembro de 2012
o carpir da esperança - povo-gado e o cabresto da democracia do interior do Brasil-Central
Meu trabalho me proporciona conhecer lugares que nem nossos representantes democráticos imaginam existir.
Todos aqueles olhares, quando torno-me presente, são um desnudamento de seu isolamento. São olhares curiosos, vis, agradáveis, suplicantes, desconfiados, esperançosos.
Mal sabem eles o quanto doem.
Há escondido no Brasil-Central uma infinidade de invisíveis, deslocados e absortos da realidade infame de grandes centros.
Uníssonos, tem o cotidiano na mais enfadonha espécime do padrão-vida.
Nascer.
Crescer.
Correr pelas ruas empoeiradas da infância.
Púbere, descobrir as leis instituídas pela sociedade conservadora.
Adolescer e sonhar com a transgressão.
Fantasiar um mundo fora daquelas cercas.
Curvar e submeter-se ao aceite daquelas cercas altas, inversamente proporcionais aos anos de estudo.
Os transgressores, o gado xucro, e poucos, transpõe aquele emaranhado de conceitos e valores doloridos. Estes, apaziguam o potencial transgressor, contentando-se ao subúrbio, as margens, abastecendo os carros que nunca terão. Contemplando e construindo as torres altas de condomínios para os quais nunca serão convidados.
Aos possíveis homossexuais, após o peso do conservadorismo, deve restar se travestir e frequentar o submundo da Paranaíba ou da região dos motéis na saída para Minas. É certo que alguns preferem um mergulho sem volta no Rio que passa lá de “trabanda”, cortar os pulsos ou deliciar-se com o sabor amargo dos agrotóxicos da fazenda do patrão dos pais.
A grande maioria resta carpir.
Entre uma colheita e uma ordenha, desfrutar dos prazeres carnais que o corpo proporciona. Arriar calças puídas e embebidas em odor de esterco. E, entre remanescentes de mato, nas margens de rio, no meio de um pasto, gozar.
Masturbar-se com desejos mundanos pela prima que mora na fazenda de coronel A ou B. Fantasiar com a filha da vizinha, Dona Joana, Maria ou Ana. Aquela mesma menina, que, quando sem seios, contemplava, companheira, a decadência da poeira depois da passagem de um carro. Aquela mesma menina que humilde esperava demais na submissão da vida o seu príncipe encantado.
Namorar em moldes da década de 70. Ou, fugir, de noite, para os fundos da única escola, desativada. Ali, sentir o prazer, que não imaginava que o descaso com um espaço público pudesse propiciar. Ali, onde as meninas imaginavam outro fruto de seu sexo, passar uma vida, despejar o resultado do rompimento de seu hímen.
Os avós e pais são aqueles que, tal como a vingança num prato frio, saboreiam o pesadelo dos filhos de casar jovens e ter a mesma existência que tiveram.
E, deste dessabor, tudo se repete.
Casamento, sexo, falta de expectativa, filhos, desamparo, ausência de princípios básicos. Saúde e educação? Cadê? A poeira do conformismo de ruas esburacadas encobriu.
Trabalho no campo. O patrão é o coronel, seus filhos ou seus netos.
Invariavelmente envelhecem. Sem médico, numa espera infindável, numa fila, sem perspectiva, do único posto de saúde do povoado. O postinho - casinha de dois cômodos, que, há muito, parece não frequentada.
Não consigo desvincular daquela casa de saúde a imagem de uma caçamba de entulhos, abarrotada. Provavelmente, ali repousava desde uma reforma da década passada. Naquela calor que beira a insalubridade, num ambiente sem cor, empoeirado, destacava-se uma flor amarela. Grito de uma planta transgressora, que resolveu, infame, desafiar o presente e denunciar a quanto tempo aquele entulho estava ali.
Morrem. E descansam no único espaço daquele distrito onde patrão e povo-gado são iguais. O povo-gado debaixo de um amontoado de terra. O patrão na caixa fria de mármore. Tão fria como toda sua vida.
Este texto é fruto de uma visita a um povoado que visitei em função de um dano ambiental propiciado por uma empresa de mineração que se instalou ali. Interrompendo um ciclo sórdido que se repete a décadas.
O referido distrito tem cerca de 100 habitantes e pertence a um município que possui pouco mais de 2000.
Mas todo aquele gado está marcado.
Ferro quente em lombo empoeirado. Lombo suado, empoeirado e anteriormente marcado por trabalho e sol.
Surgiu como um aglomerado de casas de funcionários da fazenda do patrão. Desde então, o povo-gado, foi o potencial democrático para que o patrão, seu filho e seu neto, sucessivamente, fossem seus representante na câmara municipal.
Curioso que sou, em tempos de ficha limpa, descobri que o candidato de então era o neto do patrão. O futuro do povo-gado era a submissão ao cabresto no debute do neto. Em cuja rede social identifiquei álcool, esbórnia e nenhuma menção àquele rebanho.
Patrão está muito velho. O filho foi vítima de um de um projeto de lei de iniciativa popular, que reuniu cerca de 1,3 milhões de assinaturas. Desde os primórdios, conheceram, aquelas 3 vias, algo próximo a 1,3 milhões de pessoas? Creio que não.
Arrebatadores números. Entre 60 e 80 confissões de submissão, transfiguradas em voto.
O neto do patrão nunca morou ali. Nunca correu descalço por aquelas ruas esburacadas.
“- É Doutor. Estudou em Goiânia.”
Confidencia uma representante do povo-gado, desvinculada de uma realidade distante. Submissa.
Sempre converso muito com os moradores destes recantos do fim do mundo. Mas, naquele dia, tive um conflito interno e silencioso com minha interlocutora do povo-gado.
“- … um absurdo, a filha da Joana do Tião, resolveu candidatar este ano. Um absurdo. Mulher. Tem 2 filhos. Tem que ficar em casa. Um abuso, coitada, sempre disseram que tinha problemas. Absurdo, absurdo…”
A interlocutora era do sexo feminino.
Acredito que nunca vou me esquecer daquelas palavras. É como se o movimento de seus lábios estivessem impressos em meus olhos.
E a Candidata? Sem dúvida ela tinha problemas. Ela não queria ser comum. Ela não queria olhar-se no espelho e enxergar uma vaca. Ela não queria que todo aquele gado estivesse submisso, sujeito a marca de ferro no lombo. Ela queria romper as trancas da porteira daquele curral.
Passei cerca de 5 horas perambulando pelo curral. E meu desejo, era que ante o gado eu pudesse trocar algumas palavras com a Candidata.
Era cada vez mais escuro. Num desespero, por todos os cantos, abaixo de cada resquício de rocha, eu só queria encontrar toda a esperança do mundo, daquele mundo. A Candidata…
Por entre berros e grunhidos, descobri que seu filho estava doente. Ela, mãe prudente, buscava o que o posto municipal não tinha a lhe oferecer.
A interlocutora me acompanhou por toda a visita a cidade. Conversava com todos. Conhecia todos. Era parte daquela família desesperançada. Humilde, sempre com olhos baixos. Ante cada cumprimento, cada aceno para suas comadres ou compadres, eu via um berro de vaca. A cada cafuné em criança, com ranho no nariz, eu via aquela lambida fraternal de vaca que retira a placenta de bezerro recém nascido.
Nos meus pensamentos mais mundanos, imaginava aquele touro cheirando a esterco e sujo. Recostando e, bruto, entre cabeçadas e berros, inseminando-a.
Ele, a trabalho do patrão, devia produzir novos descendentes férteis. Eram bezerros-votos. E da sua ordenha das filhas-novilhas, provinham votos. Reflexos da democracia.
Ela e todos eram um amontoado de carne, torresmo.
O patrão só comia picanha e filé.
E eu, cada vez mais diminuto, era carne moída.
O patrão é apenas um ruralista. Vereador. Meu Deus, vereador. (Não sei nem como descrever o meu escárnio.)
Parafraseando Orwell: eu olhava para para todos os lados, confuso, aflito, e só conseguia enxergar gado.
Infelizmente, constato que a Candidata não irá vencer o padrão da democracia do interior do Brasil-Central.
O futuro vereador, o neto, deve estar se embebedando, num fim de domingo, em algum barzinho do Marista ou Bueno. Ou no Goiânia Shopping, Flamboyant? Afinal na rede social ele curte a Fórum, a Lacoste, a Cavaleira e diversas outras futilidades, que confesso, também me permito. Entretanto, o meu dinheiro, não é fruto amargo de suor de curral.
E, povo-gado espera a ordenha matinal, que, no tempo dos homens, tem gestação de nove meses e resulta em voto a cada 2 anos.
doses agridoces de ontem e hoje – essas mulheres
Já frequentei tantas festas mundanas na noite que não me atrevo a contabiliza-las. Notívago, o explícito anuviado da noite me atrai mais que o incerto asseio do dia.
Digno de pena são aqueles que dependem do sol. Quão excitante é o brilho das sombras!
E, no brilho da noite, resta a máxima do filosofo: ser é perceber e ser percebido.
Ela, dançava. Sublime, desfilava a delicadeza de cada gota de seu estrógeno. Um certo descompasso entre o movimento dos braços e pernas não era o foco. Ela, salientando novamente a delicadeza, tinha toda a debilidade covarde e apurada que só o clitóris feminino pode conferir.
E ali, onde, todos, aceitos, eram meros objetos de uma vibração sonora, débeis, porém habilitados a luta, fomos covardes. Ela era o centro. Percebi que ela era o usufruto da galhofa.
O sangue é o destroço da esperança da vida.
E, ela, absorta ao som, não percebia que aquela mancha vermelha na sua saia branca, maculava tudo que todo o tempo procurávamos. Aceitação.
Eu, você e todos que ali estavam somos o resultado daquele sangue que não escorreu. Aquele líquido, que manchava o tecido branco, foi o que nossas progenitoras, mães, não perceberam depois de um ciclo menstrual, quando éramos um mero amontoado de células no seu útero.
Tímido, enfrentei a omissão perversa de todos aqueles espectadores.
Abordei. A coloquei a par daquela situação.
Aflita e constrangida, não menos que eu, ela abandonou a pista. Pouco tempo depois, aquele lindo representante de toda a feminilidade, após um singelo beijo no meu rosto, cruzou a porta de saída.
E, todos os espectadores, órfãos da chacota, continuaram, alienados, no nosso mundinho, nada complexo de balançar braços e pernas.
Todos sabíamos que ela não tinha um amontoado de células no útero. Talvez, nunca viesse a ter em função de sua orientação sexual.
Quanta vida há em todo aquele líquido viscoso que escorre do útero das mulheres. Nada mais vivo que aquele velório mensal.
sábado, 22 de setembro de 2012
“que seja”: a plena felicidade fora dos limites do céu
Hoje sou amplificador de palavras bonitas.
“Contar uma história que nos aproxime é a melhor resposta que podemos dar a quem usa as palavras para aumentar as distâncias.”
O Lêmure, de minha vida, é o tecelão do meu conceito de limbo.
Limbo:
“um lugar para onde iriam as almas inocentes que, sem terem cometido pecados mortais, estariam para sempre privadas da presença de Deus, pois seu pecado original não teria sido submetido à remissão através do batismo. ”
Inocentes,
deitamos juntos,
e foste sibila.
Sibila de meus instintos mais perversos.
Em riste,
fui submetido a remissão.
Ademais,
do que vale,
o pecado original?
_________________
“
O Coelhinho Pipoco
Essa fábula era para ser insana.
E é.
Era uma vez um coelhinho chamado Pipoco.
Pipoco era assim: todo cheio de abstrações.
Num belo dia, mas não tão belo porque fazia um calor escaldante e o tempo estava abafado, Pipoco sentado na cama, olhava os deditos do pé, aquele pé de coelho, sabem?
Não sabem, ninguém nunca pode saber como são pés de coelho. Sorte sua, azar do coelho.
Os deditos esticados, encolhidos, esticados, encolhidos, dedos de coelho.
Pipoco olha para um lado: taças.
Olha para o outro: idéias! Geladeira, geladeira, vodca no congelador, Pipoco pensou: oi,ai, eu bebo hoje. Oi, ai, vodca gelada e translúcida, vodca brilhante na taça, deditos retraem e esticam, retraem e esticam, oi, ai, é hoje, no calor de hoje.
Pipoco e sua mente brilhante tomam a taça, escorrem o líquido tão mais claro que água, denso e venenoso.
Oi, ai.
É hoje que eu me perco, pensou Pipoco.
Perder, perder o sono, o rumo, a hora, o jeito, o cômodo, o nexo, porque perder é tão bom.
Quem perde ganha, veio uma voz assim de dentro de Pipoco dizendo isso tudo e ele exclamou com um arroto: oi, é comigo? A consciência: sim, sou sua diaba.
Daí Pipoco pensou.
Pipoco?
Não, um pouco.
Ah, consciência diaba, oi, ai.
Bebo mais.
Bebo pelo que não tem nome, nem voz, nem vez.
Bebo pelos mínimos, pelos múltiplos, pelos coiotes de olhos brilhantes e faiscantes, bebo pela vizinha esquizofrênica, pela puta flácida, pelos méritos e fracassos, pela libertação, bebo pelo beber.
[arroto]
Pipoco pensou, pensou, deditos retraídos e esticados, calor, oi, ai, a Florence não calando a boca, Florence gritando, gritando.
Não cala essa boca, sua diaba!
Moby, Moby, oi?
Tudo já era a diaba.
Pipoco pensou, não pensou, porque Pipoco as vezes precisa não pensar e saiu noite afora, noite adentro, noite-dia, noite quente, noite.
Se não há nexo, viver no anexo nem parece desconvexo.
Faça qualquer coisa. amplexo, sexo, concavo, convexo.
Moral da estória: se você não tem rumo, não precisa saber nenhum caminho , não chegue a lugar algum.
”
Alexandre Nasser, o lêmure no limbo.
_________________
Resumo: “coloque isso: que seja”
Duas palavras bonitas Pipoco?
Por pouco!
Louco!
_________________
Non, Je Ne Regrette Rien
Non, rien de rien,
non, je ne regrette rien.
Ni le bien qu'on m'a fait,
ni le mal, tout ça m'est bien égal.
Non, rien de rien,
non, je ne regrette rien,
C'est payé, balayé, oublié,
je me fous du passé.
Avec mes souvenirs,
j'ai allumé le feu.
Mes chagrins mes plaisirs,
je n'ai plus besoin d'eux.
Balayés mes amours,
avec leurs trémolos.
Balayés pour toujours
je repars à zéro...
Non, rien de rien,
non, je ne regrette rien.
Ni le bien qu'on m'a fait,
ni le mal, tout ça m'est bien égal.
Non, rien de rien,
non, je ne regrette rien.
Car ma vie, car mes joies,
Pour aujourd'hui
ça commence avec toi
Non, Je Ne Regrette Rien (Tradução)
Não! Nada de nada...
Não! Eu não lamento nada...
Nem o bem que me fizeram
Nem o mal - isso tudo me é igual!
Não, nada de nada...
Não! Eu não lamento nada...
Está pago, varrido, esquecido
Não me importa o passado! (2)
Com minhas lembranças
Acendi o fogo (3)
Minhas mágoas, meus prazeres
Não preciso mais deles!
Varridos os amores
E todos os seus "tremolos" (4)
Varridos para sempre
Recomeço do zero.
Não! Nada de nada...
Não! Não lamento nada...!
Nem o bem que me fizeram
Nem o mal, isso tudo me é bem igual!
Não! Nada de nada...
Não! Não lamento nada...
Pois, minha vida, pois, minhas alegrias
Hoje, começam com você!
Começa com você
sábado, 15 de setembro de 2012
tratado de mundos diferentes–anômalos sentidos
Mas,
foi um homem abominável.
Pois,
ante meus “ah, sei, e daí?”
Teve os “também acho”
E dos nossos olhos,
que involuntários,
serão
banquetes de vermes…
partiram mutuas
a transgressão
e uma réplica de desprezo.
Assim,
vice e versa,
crônicos,
longevos
e lentos.
Tão vastos que os homens não foram capazes de mensurar.
Mambembes.
cismamos em burlar
arquitetamos devaneios
e avulsos,
convictos,
descrentes,
estamos seguros.
Procuramos como refúgio
a incerteza da crença.
E somos devotos de uma incredulidade
lambuzada de curiosidade,
discreta
“Tiras atraso?”
“Masturba-te?”
“Bacanal pós prece?”
“Ou, solidão pós desvario noturno?”
Perambulamos,
juntos,
de braços dados,
num contato assexuado,
desinteressados,
entre os ritos e os pecados.
E não sei se podes mensurar o quanto te tenho respeito e admiração.
Feliz em meu desconforto.
Angustiado pelo teu alento.
Sou réu?
Jurado?
Ou, vento?
Enfim:
“
Bem-aventurado aquele cuja transgressão é perdoada, e cujo pecado é coberto.
”
Desconexo de plano celestial.
Boêmio,
tolo,
etílico,
desinteressado,
surpreendo-me.
Livro de letras pequenas.
Leitura intrincada
escabrosa
escura.
A lei não legislada.
Ademais,
sou o avesso daquele verso,
sobremesa insalubre de terço.
Sou fruto de fé católica mineira.
Anárquico
sem leis
começo.
E já tive a face estapeada por confissão.
Quem é Deus?
Deus?
“
Deus! ó Deus! onde estás que não respondes?
Em que mundo, em qu'estrela tu t'escondes
Embuçado nos céus?
Há dois mil anos te mandei meu grito,
Que embalde desde então corre o infinito...
Onde estás, Senhor Deus?...
”
Com medo?
Fingia história
Era um dia-a-dia azedo
Eu era a escória.
E do mantra,
“
Se seu Deus é amor,
porque você prega tanto ódio?
”
Descobri que o antagonista talvez repousasse
detrás das lentes grossas
daquele
que via todo dia no espelho.
Severo.
Cru.
Feroz.
Crítico
Dissimulado.
Ele era avesso,
era contraponto.
Era ali
bem na transparência da retina
que subversivo e malévolo
guardava toda a divergência
contraproducente
aos meus sorrisos.
Abatido e mortificado
eu soube
que o disfarce
caiu.
"
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?"
Para uma aceitação que jamais sonhei.
Juro,
que bêbado,
cheguei em casa,
li o Livro.
E tive vontade de compartilhar com você minhas angústias.
Eu vou ensinar-te sobre meu mundo
Como ensinou-me.
“Porque você nunca me falou? … foram 4 anos.”
Porque o cara,
ali além do espelho,
me ensinou a ter preconceito.
Não está de todo errado.
Mas há de enfrentar sua “aberração”.
Acaso,
sabe o que é ter dedos apontados?
sabe o que é ter medo de aglomerados?
sabe o que é ter amigos maltratados?
humilhados?
mortos?
Eu sinto tanta falta.
Mantenho sorriso no rosto.
E,
obrigado amigo,
é muito importante
para que eu compreenda o que significa
o termo mais anômalo
entre nossos dois mundos:
Aceitação.
terça-feira, 4 de setembro de 2012
o presente e o mais verdadeiro clichê.
A questão:
“- E aí, ganhou muitos presentes de aniversário?”
Desembrulho:
Nenhum
embrulhado em papel celofane,
nada de fitas.
Ganhei o som do despertador nesta manhã.
-
“Comemorar aniversário?
Estranho né!
Comemorar idade,
rugas!
Comemoremos!
o passar do tempo,
que não perdemos.”
-
Pseudo-intelectuais adoram o termo: “clichê”.
Clichê?
“É uma expressão idiomática que de tão utilizada, se torna previsível. Desgastou-se e perdeu o sentido ou se tornou algo que gera uma reação ruim, algo cansativo em vez de dar o efeito esperado ou simplesmente repetitivo.”
-
Voltando aos meus presentes:
Ganhei o prazer de conviver com a família mais gostosa que escolhi,
meus amigos.
Ganhei:
meus fim de semanas deliciosos,
meus porres tresloucados,
minhas baladas pitorescas,
minhas lembranças que não precisam de foto,
todo um temporal de nostalgia ouro-pretana.
Ganhei a saudade de ter vivido
tanto e tudo,
e tudo.
Ganhei o prazer de esquecer de sentir saudades.
Saudade é o sentimento de falta
de espaço.
Mas quando foi completo?
É nostalgia,
não saudade.
Sou fácil
presenteiam-me todos os dias
sou de riso fácil.
Dou risada de desespero.
Choro de felicidade.
Não tenho direito de dizer
que não sou
uma das pessoas mais felizes do mundo.
E, quais são meus desejos?
Eu que não ligo para o que pensam de mim,
antes de postar a cabeça no travesseiro,
espero somente um abraço,
um chamego apertado,
um selinho no rosto.
Há presente melhor do que ser aceito.
Há?
Ademais, obrigado.
_____________________________
_____________________________
E,
nas linhas de caderno,
tortas,
talvez,
os traços foram nossos,
os borrões,
acontecem.
No nosso “Aurélio”,
“pai dos burros”,
relevar
voa como resquícios de borracha sob ação do dorso da mão.
Viver é saber usar corretamente o “errorex” do tempo.
E,
por onde andei,
meu maior presente,
foram os amigos que deixei.
Vocês.
-
Não malho.
Tenho a vista de minha janela.
Sou chato.
Não tenho desejos.
Quero apenas o que vocês podem me dar.
Corro apressado do tempo que me resta.
Desimportante.
E,
por ser igual a tantos,
nasci diferente.
Covarde,
porém atento,
do drama,
fiz dentes amarelados pela nicotina,
expostos
meu intento.
“
Devoram os meus sentidos
Eu já não me importo comigo
Então são mãos e braços
Beijos e abraços
Pele, barriga e seus laços
São armadilhas e eu não sei o que faço
Aqui de palhaço, seguindo os seus passos
”
Amigos,
são a família que escolhemos.
Clichê?
Previsível e repetitivo.
Família.
Segredo,
minhas confidências:
Gosto de garotos.
Eu amo meus pais.
Mas nos repreenderíamos ou ririamos juntos.
E quando voltaríamos a nos encarar?
Seria o silêncio conivente de uma descoberta?
Ou o soluço de atenção?
Daquele que acabas de salvar de uma catástrofe.
E seria fácil limpar todo aquele leite derramado?
Atentar para todas as mentiras baratas?
Proferir “Amém”?
Só me resta este silêncio.
Em algum lugar eu perdi meu conceito mais primordial
família.
Vocês,
denunciaram meu eu.
E firmes,
ofereceram seus ombros
no meu desbaratado descalabro.
Eu gravo na minha capa,
cada momento em que riram quando eu ri.
Meus demônios são rotos e fajutos
passados.
Eu sempre caminho sozinho
entre desconhecidos
que não fazem a menor ideia do que se passa dentro de mim.
Não sabem de mim
e não tenho ressalvas
mistério
segredo.
Eu tenho uma sensação de que,
a qualquer momento,
eu posso sumir.
Minha melhor conquista é mimetizar-me.
No mais,
meu desejo
é ser transparente.
Em vocês eu descubri a fórmula do elixir da invisibilidade.
quarta-feira, 29 de agosto de 2012
ser sexy
Trecho de:
"Ser sexy - Léo Aquilla"
"
Queremos um homem perfeito!
uma Mulher sem defeito,
cortada,remendada,implantada não importa!
conteúdo pra que?
o que queremos é aparecer!
escandalizar
ser sexy
para Iludir ou Encantar!
Sair na capa das revistas!
ganhar a vida fácil fingindo ser artista!
Somos o pais das bundas!
e pensamos com a cabeça de baixo!
Uma mulher para se dar bem, não precisa ser formada!
ela tem que ser SILICONADA!
e nada comportada!
Essa mensagem veio em forma de poema!
para dizer que pena,
pois no mundo onde a prioridade e ser linda e sensual!
não se cuida do espiritual!
mais atenção!
tudo passa!
e quando os tempos forem de amor e conteúdo,
quem cuidou do espirito
é quem vai estar com tudo.
esta historia de BBB é tudo blábláblá
eu quero ver quem vai fica!
sobreviver e se estabelecer.
nem tudo é grife
carro do ano e formas perfeitas,
é melhor começar a cuidar do interior
pois quando ele voltar,
vai perguntar,
Inhai sexy!
Quanto é 2+2?
e nem 4 saberão responder
é nessa hora que quem cuidou do espirito será reconhecido,
e aplaudido.
mais ainda há tempo
e essas palavras podem soar como um alerta em alguns corações,
de qualquer forma eu só queria disser!
Seja SEXY EM ALGUM MOMENTO
prefira ser Bonito Por dentro!
“
Poema By: Léo Aquilla
Parabéns e valeu por tudo Léo Aquilla.
quinta-feira, 16 de agosto de 2012
das incontáveis páginas guardadas…
De todos meus vícios, que são muitos, ultimamente, o que mais me consome é a escrita.
Muitas das minhas respostas estão em páginas rotas, impregnadas de tabaco. Riscadas, rasuradas, sujas. Ademais, nunca completas. Aliás, não há nada completo. Nunca haverá. Completo é a sequência de crônicas, contos, versos e frases soltas, já escritas desde o primeiro traço tribal.
Da introdução das próximas 3 doses do Momentos desinteressados: "Já frequentei tantas festas mundanas na noite que não me atrevo a contabilizá-las. Notívago, o explícito anuviado da noite me atrai mais que o incerto asseio do dia. "
Sei que no “Brasil ideb”, ler e escrever tornou-se medíocre. Algo que se tem até uma pontinha de vergonha. Sim vergonha. Receio do rótulo: arrogante pseudo-intelectualóide.
Intelectualóide?
Numa pesquisa banal do oráculo moderno fui apresentado ao termo/conceito. ( “Qual a diferença de um intelectual e um intelectualóide?” )
Sou um ignorante. Não que seja humilde, longe disso, meu ego ultrapassa todos meus caminhos.
Nunca consegui entender a regra das crases. Sou um péssimo acentuador de palavras.
Não escrevo bem. Nunca serei o “Juber Henrique Andrade Assis de Alencar”.
Escrevo mediocridades, fatalidades, bestialidades e futilidades.
Desculpe-me. Alguns fumam ou bebem ou malham ou são felizes ou arrotam ou julgam ou simplesmente passam.
Eu fumo, bebo, nunca malho, não sou feliz, não sou triste, arroto sim e peido também, mas eu não julgo, das linhas analiso.
Eu não estou a passeio, eu, como você e como todos deveriam, quero fazer alguma diferença.
O que publico, são trechos, um nada, meu nada, só meu…
A minha intelectualóide realidade.
Mas há o que se escreve e que não se partilha, há o que nasceu para ser póstumo…
E eu gosto disso, do poder de ler o que é só meu. Um meu egoísta que diariamente beija o asfalto.
Das letras, enamoro-me de paradoxos e antíteses, tão diferentes e tão semelhantes. E de tudo, arrogante, deixem-me ser eu. O garotinho criado com cuequinha branca na casa de vovó.
sábado, 11 de agosto de 2012
pulsos cortados dos insones–epistaxe
“Calada noite preta, noite preta”
…
o trabalho dignifica o homem....
o rivotril e o energético sustentam a rotina....
náuseas
vômitos
tipo vertigem: vida.
Homem.
há tempos,
da vida
sou usufruto de carne
adoção dos ossos untados.
Dos meus sorrisos,
resta enlaces,
semideciduos
verdades / surpresas /pavor /ilusões.
Fui abatido por foice,
vara de condão da morte,
e do sangue que escorre fresco,
lento,
feito vazão da brevidade dos arco-íris,
sinto cheiro de despertar
suado
em madrugadas quentes
secas.
Sangue de septo-nasal
cheira sorriso de bruxa
flatulência de fadas.
Afobado
meus pulsos continuam intactos
meus planos continuam quebrados
Dos fatos?
Epistaxe.
Restam 3 horas de sono,
meu sorriso forçado,
banho de gato,
cabelo ensebado,
fármacos liberados,
lençol e fronha ensopados,
vermelho,
salgado….
Saudade de casa e ansiedade depravada.
(Quando, a umidade do ar, causou epistaxe. Despertei incerto de vida. Tive medo. Goiânia, 02:24, 11/08/12, sujo de sangue.)
_________________________________
Epistaxe, epistaxis ou hemorragia nasal é o nome dado a qualquer perda de sangue pelo nariz, geralmente pelas narinas.
domingo, 22 de julho de 2012
deturpação entre 4 paredes / a dedetização reversa / é público / temor da rua / tá com medinho? / é preciso estar atento e forte! / o “Pirigo”, tá lá
FATO:
“Em razão da deturpação da finalidade, o evento semanal “Grande Hotel vive o Choro”, de iniciativa da Prefeitura de Goiânia, será suspenso a partir de hoje (20/7) e passará por uma reformulação.”
Fonte: Ministério Público de Goiás.
CONTRA FATO:
“Quem saiu de casa nesta sexta-feira (20/7) com destino ao Grande Hotel para assistir às apresentações culturais ao ar livre do projeto “Grande Hotel Revive o Choro” se deparou com uma operação de policiais e guardas, carinhosamente apelidada por mim de operação dedetização. O Chorinho foi suspenso e deve passar por reformulação. Esses policiais estão por lá para dar o recado ao “público-problema” (nas palavras de um coronel) e limpar a área. Ministério Público, Polícia Militar, Polícia Civil, Guarda Municipal, Secretaria de Cultura e Corpo de Bombeiros foram quem decidiram por esta suspensão em reunião. Antes mesmo da reformulação, eu digo a todos vocês que participaram dessa reunião, enquanto cidadã, da perspectiva da platéia e artista, de quem sobe ao palco: vocês tomaram uma decisão errada.
A justificativa pela suspensão do projeto, de acordo com a nota do Ministério Público é a “deturpação da finalidade do evento”. Reescrevo para vocês, com todas as palavras do documento. “A reformulação visa garantir segurança ao público que aprecia o ritmo musical, retorno da tranqüilidade aos moradores daquela região e, em especial, coibir as diversas irregularidades e atividades criminosas que estão acontecendo no local, como tráfico e uso de drogas, venda de bebida alcóolica a adolescentes, perturbação ao sossego público, prostituição, entre outros”. Eles reclamam, ainda, do público que permanece no local, ao fim dos shows, fazendo som com atabaques e tambores.
Eu não sei qual Centro os participantes dessa reunião vêem pela noite quando por lá circulam. O que eu vejo, há muitos anos, é um bairro cheio de história, em cada esquina; beleza e nostalgia em cada Art Déco, mas que vem sendo jogado às moscas. Um espaço em que há, por todos os cantos, prostituição, tráfico e uso de drogas e adolescentes bebendo álcool. Um setor que, ao fechar das portas do comércio durante o dia, se torna um setor perigoso e desumanizado. Os problemas, identificados no Chorinho, simplesmente moram no Centro.
O primeiro parabéns que recebi no último show dos Passarinhos do Cerrado, que por acaso foi na última edição do Chorinho antes da suspensão (última sexta 13), foi de um mendigo. Ele estava emocionado com o show, bêbado e, depois de me dar parabéns, pediu a cerveja do meu amigo que conversava comigo. E saiu, sem atrapalhar ninguém. Esse mendigo não assistiria a esse show se não fosse nas ruas. Mesmo que de graça, ele não entraria nem no Goiânia Ouro, nem Teatro Goiânia nem mesmo dentro do próprio Grande Hotel. E todo mundo sabe disso.
A rua é temida em Goiânia. O espaço mais difícil de se ocupar; ainda mais culturalmente. Ou alguém aqui se esqueceu do Carnaval de 2009 quando havia festa nas ruas da Avenida Araguaia e artistas e público foram agredidos por Policiais Militares de forma absurdamente covarde? A justificativa daquela vez (assim como desta do Chorinho) era esse tal “público-problema”. O público que aparece quando as festas são nas ruas. O público que está sendo varrido nesse momento.
E, ainda, qualquer manifestação cultural que provoque barulho em Goiânia tão logo é taxada de “perturbação ao sossego público”. E quem disse que o povo daqui quer sossego numa sexta depois de expediente? As três mil pessoas que estão nas ruas da Avenida Goiás querem arte. Querem se divertir. E arte não é, nem nunca será sinônimo de sossego. Até quando o sossego público será mais importante que as manifestações artísticas? E, todos nós sabemos bem, que o local é muito mais comercial que residencial. Deve haver muito mais moradores reclamando de barulho e perturbação Marista e Bueno afora.
Não será justo com os goianienses que há muitos anos batalham por esse projeto e por esse espaço (passando pela compra do Grande Hotel pela prefeitura quando INSS era o proprietário e queria transformá-lo em agência e pelo enfrentamento dos escândalos de corrupção dentro da Secult que paralisaram o projeto). Não passará de uma covardia, esquivando-se da rua e dos seus problemas. Vocês estarão fechando os olhos para os problemas que habitam o Centro há muitos anos e que, inevitavelmente, estariam presentes no Chorinho.
O que deve ser compreendido é que o Chorinho está aí para humanizar o Centro. É uma das ferramentas para combater todas as criminalidades que lá existem. O Centro deve ser, cada vez mais, ocupado e não temido. Num raio de dois quilômetros temos: Teatro Goiânia, Teatro Rio Vermelho, Goiânia Ouro, Mercado Central, Mercado da Rua 57, Martim Cererê e Grande Hotel. Os espaços não dialogam entre si. E, pior, mais da metade está parada ou com má ocupação cultural. E um dos únicos projetos ainda em funcionamento está, a partir de hoje, suspenso. Porque as ruas são temidas assim como certos tipos de cidadãos que as ocupam irrestritamente. O Centro e as ruas devem ser, cada vez mais, humanizados e não dedetizados.”
Fonte: Coluna de Nádia Junqueira no site – aredação.
(grifo meu)
REVERÊNCIAS:
Nádia Junqueira
Com ou sem Chorinho. É esse o Centro de Goiânia.
IRONIAS / FALSAS VERDADES / VERDADES INCONVENIENTES:
“
Demóstenes Torres volta ao trabalho no Ministério Público de Goiás
Senador cassado passou duas horas no órgão, na manhã desta sexta-feira.
Ele preferiu não falar com a imprensa e recebeu a visita de um promotor.
”
Fonte: G1-Goiás
ODE:
PARA QUEM SE PREOCUPA :
com que roupa?
CONCLUSÕES:
O Marconi Perigo tá lá!
É preciso estar atento e forte!
E,
o Ministério é Público!
“Atenção ao dobrar uma esquina
Uma alegria, atenção menina
Você vem, quantos anos você tem?
Atenção, precisa ter olhos firmes
Pra este sol, para esta escuridão
Atenção
Tudo é perigoso
Tudo é divino maravilhoso
Atenção para o refrão
É preciso estar atento e forte
Não temos tempo de temer a morte ”
-
“Atenção, precisa ter olhos firmes”
Há tempo de temer
que a admiração transforme-se em decepção.
domingo, 15 de julho de 2012
releituras: esquivando da verdade do mundo imundo / esperança / cometendo a eutanásia de meu escudo
Para ser compreendido
Cada estrofe é inevitável
---livre---
643 dias depois de “incorretos sob perspectiva de Deus”
Eu transcrevo o texto de 11/10/2012:
“
incorretos sob perspectiva de Deus
hoje morreram Antônios, Marias e Robertos
Terezas, Paulos e Júlias.
hoje morreram pais, mães, tios e avós.
Irmãos, netos e filhos.
mas, hoje sou um pouco menos desiludido de gente
hoje sou mais velho escorrendo pelos dedos antes de chegar ao gozo
lembrar de gente que nem ao menos ouviu meu verborrágico “oi”
estúpida humildade sórdida de pensar que não estou sozinho
Hoje eu choraria em festa, mas resolvi dançar em velórios.
Enfastiado, morro, cada dia, um pouquinho mais, e mais.
Pareço plástico. Rígido, limitado.
Que tirem meus documentos.
Sucumbo ao fracasso de cada esquina em que as prostitutas fumam.
espatifado por veracidade falsa,
minha identidade me pega… me sova… me julga…
esbarro em foragidos da verdade de mundo
imundo
realidades abstratas de sonhos que não acredito
e não acreditar em sonho
é morrer um pouco mais
e mais
e mais
depois há, ainda, um outro mal-estar de descobrir que o coração bate
de descobrir súbitas mentiras para ti mesmo
e morrer um pouquinho mais.
eutanásia é o cúmulo de lucidez
e Dostoievski me disse que quando se perde o medo da morte se é Deus.
meus, momentos, filhos sem pai, órfãos
hipócritas tratam seu ofensor com bondade
contundente é saber que eu morrerei sem entender absolutamente nada do mundo.
dos homens.
( eu escrevo o que quero que não entendam, mas cada palavra tem seu dicionário interior, seu medo, sua fúria, seu pecado, sua verdade e sua mentira. tudo bem, não sinta meus olhos e nem estenda-me os olhos )
”
---livre---
E depois, antes e agora:
[...]Sem esperança esses "nós" desistem. Eu sei que não se pode viver só de esperança, mas sem esperança não vale apena viver
Harvey Milk
---livre---
“
Tradução da aceitação do Oscar de melhor roteiro original pelo filme MILK para Dustin Lance Black...
Ele disse:
“Quando eu era pequeno minha mãe me retirou da igreja (conservadora) dos mórmons no Texas e me mostrou a historia de Harvey Milk na Califórnia. Isso me deu esperança que eu poderia viver a minha vida, viver a minha vida abertamente sendo quem eu sou e também me deu esperança que um dia eu poderia sentir amor também e se casar...”
Aplausos...
“Eu gostaria de agradecer a minha mãe que sempre me amou do jeito que eu sou mesmo ela tendo sofrendo pressão para não me amar assim...”
Pausa...
“Mas o mais importante de tudo, e que se a 30 anos atrás Harvel Milk não tivesse sido tirado da gente (ele foi cruelmente assassinado por homofobia) ele gostaria que eu dissesse agora para todos/as crianças, jovens e adolescentes lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais por todo o mundo os quais escutaram das igrejas e do governo ou pelas próprias famílias que eles não tinham valor, Harvey disse que nos todos somos criaturas maravilhosas e temos valores incríveis e não importa o que qualquer pessoa diga sempre saiba que DEUS te ama e eu te prometo que mais cedo do que tarde nos teremos direitos iguais em nossa grande nação a nível federal. Thank you e obrigado a Deus por ter nos dado Harvey Milk”.
Aplausos...
”
Fonte: http://milk.gay1.com.br/
---livre---
Mas há esperança:
http://quemsaoeles.tumblr.com/
---livre---
difícil distanciar-se da proteção do armário
Mas há de se ter coragem
Ser homem
Ser “Pedro” não é fácil.
228 comentário em 6 meses
---livre---
São por eles:
https://homofobiamata.wordpress.com/
---livre---
É com um nó na boca do estômago
Que eu fecho esta postagem
Não quero sentir saudades do meu armário.
sexta-feira, 29 de junho de 2012
3 doses agridoces de ontem e hoje
1
Eu sou um fumante inveterado. Mais de 20 doses da vitamina nicotina diárias. Ontem, aguardando meu hexaedro de alcatrão, na fila de uma loja de conveniência de posto, presenciei um diálogo de um casal, que comprava 3 cervejas “Crystal”:
Ela: - Seria melhor ( algo inteligível em função de uma voz trêmula e submissa)…
Ele: - Se você não sabe não fala. Para de ser burra… que porra… (percebendo uma pressão demasiada vindo da mão masculina de dedos rudes)
Ela, negra, de aparência humilde, cabelos alisados e ressecados, pele sofrida, chinelos velhos e puídos, direcionou um olhar discreto, verificando acaso alguém percebera aquele afronta, insulto, assédio de alma… “burra” percebeu meus olhos e direcionou um olhar vulgarmente profundo para a lajota fria, tão muda quanto seus lábios ressecados.
As moedas, que recebia como troco, manifestaram uma vibração tímida. Era compaixão?
Bruto e tosco, homem, abriu uma lata de cerveja, ajeitou as outras numa sacolinha de plástico, arrastou seu objeto sexual. Mal sabia ele, quão pesado era o rancor acumulado naquele “ser-buraco”.
Saindo da loja de conveniência, recebi um olhar pungente da submissa senhora. Era um grito, mudo, de socorro, de vergonha.
Ele, com a latinha de cerveja na mão, guiava um carro popular.
Para onde?
Não sei.
2
Almoço com muita frequência num restaurante bem próximo de onde trabalho. Com colegas, amigos, deglutimos o tempo com sabor de amenidades, questões salariais, atualidades, experiências, sutilezas, sorrisos, pecados, confissões, sarcasmo…
Voltamos, lentos, caminhando, digerindo as impressões de mais 4 horas de labuta vindouras.
Hoje, adocicamos a alma apreciando o movimento coletivo de larvas, feias, de borboletas. Apimentadas de medo, temperavam a impressão de poder, deslocando-se juntas.
Eram fome de coragem. Destemidas, juntas, eram saciedade.
3
Volto contemplativo de vida. Volto vicioso pra casa, após laudos, reuniões, trabalho.
Só, naquele trajeto de lote baldio, de chão de terra, irregular pela força do tempo, como em movimento involuntário de passo ante passo, é ali que eu planejo o resto de vida, os resquícios de sol, a poeira da noite.
Sempre, neste caminho, travo embate com a presença de um morador de rua, invisível, barba e cabelos desgrenhados de transpiração, migalhas, sacrifício de acordar, morrer percorrendo as trechos de vida, morto social, abatido por carro do ano transfeito em espelho de banheiro, maculado pela invisibilidade de seu reduto, seu lar, ser assim tão amplo. E toda aquela amplidão de lotes baldios, ruas, avenidas, viadutos, marquises de supermercados são suas grades.
Preso.
Hoje, aquele homem, num lote baldio, feito criança, empinava uma pipa. Os olhos brilhavam mirando um compilado de varetas de bambu e papel de seda vermelho. Sua redenção.
Hostil, sua verdade de dentes puídos, expostos. O embate, era invisível, como fora ele, durante tanto tempo. Ele era o gladiador que apunhalava violentamente meus conceitos. Vil, apunhalava um garoto, loiro, que dentro de um carro de luxo, alvoroçado, chamava a atenção de seu pai para aquele homem feito, criança. Aquele sorriso era a detenção daquela criança. A pipa, por segundos, foi o fluido, quente, que correu pelas veias daquele homem.
Dias atrás, eu vi aquele homem chorar, recostado ao viaduto.
Tímido, ousei ser povo, e fingi para mim, não ver.
Hoje, foi eu, ferido, que fingi não chorar.
segunda-feira, 18 de junho de 2012
outras memória de página de caderno envelhecido
Dia difícil.
Recusei o convite para um jantar muito aguardado na casa de amigos. Em busca de iguais, de colo, justiça. Encontrei o fator “política”. Com uma boa quantidade de frustração, cheguei em casa, resolvi voltar ao tempo e escrever coisas boas, como eu escrevia nas minhas últimas páginas de caderno. Não bastava um teclado. Eu precisava de contato, traço.
Esgotado, faltou inspiração. Faltou disposição. Sobrou a necessidade de coisas boas. Foram as redes sociais que me acolheram com citações.
Interessante, minha grafia é tão diferente de antes. Letras de forma, maiores, substituíram a cursiva que causava miopia aos professores de Ensino Médio. Traços determinados, crentes no possível.
Parece que eu também cresci. Minhas reações estão mais “planas”, sem os vincos comuns dos impropérios, sem os rompantes. Todo aquela expectativa de mimetizar-me, camuflar-me, transformou-se em disposição de “sangue nos olhos”, vontade de ir a luta, após constatação de que os contos de fada, não se assemelham aos contos de fada.
Estou maior, já faz um bom tempo que percebo isso. Talvez seja a proximidade dos meus 30 anos. Talvez, apenas a constatação de que o adjetivo “balzaquiano” é mais andrógino do que parece.
Talvez, também tenha havido um “upgrade” no meu HD direcionado ao rancor, frustração, hombridade e paciência.
Houve um tempo, em que a atual conjectura,/ me faria arrancar cabelos, ter vontade de pular do prédio, beber, chorar muito. Não que não seja mais necessário, não que não seja mais possível, mas eu levo a vida tranquilo. Punhal entre os dentes. E as lágrimas substituídas por sangue. Sangue de dor, orgulho.
Sim, eu tenho orgulho.
Vontade.
domingo, 17 de junho de 2012
lembretes e conceitos abolidos nos trilhos dos valores de um parque infantil
Estou tentando me ater a esquecer conceitos
Da moral instituída
Dos valores estipulados
Empurrados goela abaixo.
Indigestos.
Perdemos nosso tempo analisando o intangível
Felicidade
Tristeza
Saudade
quero ser gargalhada
quero salgar a terra com lágrimas
quero me arrepender do feito
quero marcas
cicatrizes
pele e gozo
Procuramos o novo,
extraordinário.
Vale a pena?
Está ali
corriqueiro
vulgar
safado
trivial
bandido.
Tão banal e inútil
que escorrega
liso e raso.
Isentos de culpa,
Divagamos
deixamos nosso pensamento ao sabor do vento
Perambulamos entre caminhos intricados
numa dimensão que está dentro do arquivo das lembranças
Idealizamos demais.
Esquecemos que é isso.
Irresolutos de viver
fluidos e instáveis
deixamos escapar.
Momentos desinteressados.
do jeito que eu quis
e não da forma como os outros quiseram.
Ontem senti o pulsar do peito
abraço amigo.
Praça Cívica
adulto
demaquilei os dedos em riste
parquinho de criança
o vento no cabelo rijo
relevei o que os outros pensam
sobre trilhos
Sem escolhas
o vento feriu meu glamour de possuir pelo no púbis
Não havia felicidade
Havia sorriso
Havia verdade
Momento desinteressado.
O primeiro post deste blog foi intitulado ventava
no carrinho
sobre trilhos
“Ói, olhe o céu, já não é o mesmo céu que você conheceu, não é mais
Vê, ói que céu, é um céu carregado e rajado, suspenso no arVê, é o sinal, é o sinal das trombetas, dos anjos e dos guardiões
Ói, lá vem Deus, deslizando no céu entre brumas de mil megatonsÓi, olhe o mal, vem de braços e abraços com o bem num romance astral
Amém.”
num parque infantil
ventava
sorrisos
lembranças
meu pai me acompanhou na primeira volta de montanha russa…
parque de interior de minas
frio no rosto
saudade de pai
de casa
resultado do passar do tempo
dos trilhos restou o gosto amargo de ressaca
nos trilhos
contrariamos
o conceito de pai com filho no colo
o conceito “moral”
o conceito “família”
Minha camisa rosa sobrepondo regata azul
não era foco
inconvenientes olhares
tiros de 12
sussurros
os toques fugazes, tímidos e temerosos
ultraje
afronta
meu sorriso
inapropriado aos costumes
"conjunto de regras de conduta consideradas como válidas, éticas, quer de modo absoluto para qualquer tempo ou lugar, quer para grupos ou pessoa determinada" (Aurélio Buarque de Hollanda)
Dois homens
Duas mulheres
bocas marcadas por sorrisos sobrepondo lágrimas
marcadas por teor adulto
sujas
vulgares
sagazes
sedentas de socorro
aflitas por carinho
transfiguradas em abolição
da propriedade privada
“julgar”.
Úteros e falos
perto demais.
Ouvidos atentos
às bocas que pronunciam “Amém”
Ser diferente não é fácil
Combalido caminhar entre o conceito do certo
ser errado
mancha
Sou nódoa
Pecha do que se espera de um falo
Acaso sou o fato?
Sou lance do que ocorre entre minhas quatro paredes?
Sou o resultado de quem deita ao meu lado?
Cuspe na face da hierarquia
Escarro no seio familiar.
Sou o acidente nas cartadas da vida
Não lembro como cheguei em casa
bebi a vida.
Eu
nunca disse “eu te amo” ao meu pai
Eu corri o risco de sorrir.
pular e dançar
vexar conceito
“ pensam de mim”.
Fui num parquinho infantil
de lá, pra cá
andei sozinho,
assisti TV,
apreciei uma mariposa
conferi extrato bancário
e entre um débito e uma transferência
fumei meu cigarro
zombei mentalmente de uma senhora com um decote
senti nojo da unha com micose do cara do supermercado
tive desejos mundanos
cocei o nariz
bebi cerveja
chutei uma tampa de garrafa
esperei os carros para atravessar a rua
fiquei nu
cantei sozinho em casa
comi lasanha de micro-ondas
percebi um “roxo” no joelho
tomei um calmante.
E o resultado?
Hoje eu me peguei encarando o teto.
A textura, a diferença de tonalidades.
Eu não escrevi lembretes e colei na porta da geladeira.