A questão:
“- E aí, ganhou muitos presentes de aniversário?”
Desembrulho:
Nenhum
embrulhado em papel celofane,
nada de fitas.
Ganhei o som do despertador nesta manhã.
-
“Comemorar aniversário?
Estranho né!
Comemorar idade,
rugas!
Comemoremos!
o passar do tempo,
que não perdemos.”
-
Pseudo-intelectuais adoram o termo: “clichê”.
Clichê?
“É uma expressão idiomática que de tão utilizada, se torna previsível. Desgastou-se e perdeu o sentido ou se tornou algo que gera uma reação ruim, algo cansativo em vez de dar o efeito esperado ou simplesmente repetitivo.”
-
Voltando aos meus presentes:
Ganhei o prazer de conviver com a família mais gostosa que escolhi,
meus amigos.
Ganhei:
meus fim de semanas deliciosos,
meus porres tresloucados,
minhas baladas pitorescas,
minhas lembranças que não precisam de foto,
todo um temporal de nostalgia ouro-pretana.
Ganhei a saudade de ter vivido
tanto e tudo,
e tudo.
Ganhei o prazer de esquecer de sentir saudades.
Saudade é o sentimento de falta
de espaço.
Mas quando foi completo?
É nostalgia,
não saudade.
Sou fácil
presenteiam-me todos os dias
sou de riso fácil.
Dou risada de desespero.
Choro de felicidade.
Não tenho direito de dizer
que não sou
uma das pessoas mais felizes do mundo.
E, quais são meus desejos?
Eu que não ligo para o que pensam de mim,
antes de postar a cabeça no travesseiro,
espero somente um abraço,
um chamego apertado,
um selinho no rosto.
Há presente melhor do que ser aceito.
Há?
Ademais, obrigado.
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E,
nas linhas de caderno,
tortas,
talvez,
os traços foram nossos,
os borrões,
acontecem.
No nosso “Aurélio”,
“pai dos burros”,
relevar
voa como resquícios de borracha sob ação do dorso da mão.
Viver é saber usar corretamente o “errorex” do tempo.
E,
por onde andei,
meu maior presente,
foram os amigos que deixei.
Vocês.
-
Não malho.
Tenho a vista de minha janela.
Sou chato.
Não tenho desejos.
Quero apenas o que vocês podem me dar.
Corro apressado do tempo que me resta.
Desimportante.
E,
por ser igual a tantos,
nasci diferente.
Covarde,
porém atento,
do drama,
fiz dentes amarelados pela nicotina,
expostos
meu intento.
“
Devoram os meus sentidos
Eu já não me importo comigo
Então são mãos e braços
Beijos e abraços
Pele, barriga e seus laços
São armadilhas e eu não sei o que faço
Aqui de palhaço, seguindo os seus passos
”
Amigos,
são a família que escolhemos.
Clichê?
Previsível e repetitivo.
Família.
Segredo,
minhas confidências:
Gosto de garotos.
Eu amo meus pais.
Mas nos repreenderíamos ou ririamos juntos.
E quando voltaríamos a nos encarar?
Seria o silêncio conivente de uma descoberta?
Ou o soluço de atenção?
Daquele que acabas de salvar de uma catástrofe.
E seria fácil limpar todo aquele leite derramado?
Atentar para todas as mentiras baratas?
Proferir “Amém”?
Só me resta este silêncio.
Em algum lugar eu perdi meu conceito mais primordial
família.
Vocês,
denunciaram meu eu.
E firmes,
ofereceram seus ombros
no meu desbaratado descalabro.
Eu gravo na minha capa,
cada momento em que riram quando eu ri.
Meus demônios são rotos e fajutos
passados.
Eu sempre caminho sozinho
entre desconhecidos
que não fazem a menor ideia do que se passa dentro de mim.
Não sabem de mim
e não tenho ressalvas
mistério
segredo.
Eu tenho uma sensação de que,
a qualquer momento,
eu posso sumir.
Minha melhor conquista é mimetizar-me.
No mais,
meu desejo
é ser transparente.
Em vocês eu descubri a fórmula do elixir da invisibilidade.
Um comentário:
Não sou crítica literária,sou apenas uma pessoa muito só, que se identifica muito com seus textos.
Espero que vc comemore muitos aniversários pq vc faz a diferença neste mundo cão.
Beijos.
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