interessado em alguma bobagem

sábado, 30 de abril de 2011

adverso prazer de simulacros diferentes

tosco /  repetição irritante / orgulho não / vontade

Simulacro de ódio

A verdade pode ser o cotidiano que borrou

bulling boca pra fora /  gostar fingindo descaracterizar
mas ainda não

similitude

imitação com confronto

desconformidade

 

e me falta vontade

vontade

terça-feira, 19 de abril de 2011

a arma dos olhos e os coelhos transgênicos com gene de galinha e cacau

Desconsideremos nossa hipocrisia instituída, retiremos nossas máscaras e sejamos francos.

Não só para um “descrente”, mas para muitos, a Páscoa há muito deixou de significar ressurreição (e eu sei).

Hoje cultivamos coelhos transgênicos com gene de galinha e cacau.

Nunca me esquecerei de minhas teorias infantis de como os coelhos produziam os ovos.  E minha mãe escondia-os e fazia rastros com farinha de trigo.

Eu acreditava, confesso.

Em paralelo, me recordo o quanto eu chorei quando descobri que era meu pai quem comprava os presentes para o Papai Noel. Achei que o danado do velhinho era esperto demais. E quando soube que ele era meu pai? Tive febre.

Hoje, menos inocente, com a macula vestida com “viver”, eu tenho vontade de voltar a acreditar nos “coelhos da páscoa”.

Minha inocência fugiu pela porta dos fundos de um modo tão sorrateiro que nem percebi.

A “inocência” esvai pelas frestas dos dedos, dissipa-se. E assim subitamente nos encontramos sujos e jogados na selva.

Hoje eu parei para pensar: qual foi a última vez que ganhei um ovo de páscoa?

Eu não me lembro.

Goiânia, Praça do Cruzeiro, na calçada de uma daquelas farmácias há sempre uma garota. Com pouco mais que 20 anos, ostenta duas crianças de colo como merchandising de seu pedido de esmola.

“… para o leite.” “… para o pão.” “… para o remédio.” Artifícios? Nem sempre. Às vezes a verdade: o crack não deixa de ser um remédio para a criança-mulher esquecer uma realidade bruta de crescer na rua e nunca ter tido um trajeto branco de farinha de trigo que levasse a algum ovo de páscoa.

Um fluxo constante, mareado de poeira, escorre pelas narinas; olhos negros, arregalados e grandes da filha mais velha de no máximo 2 anos. Com seu vestidinho composto por uma camiseta de campanha política, que há muito deixou de ser branca. Aqueles olhos me renderam por diversas vezes como um “trinta e oito” apontado na testa.

Hoje, eu fiz o mesmo trajeto de sempre e fui ao supermercado. Ao retornar, passando pela Praça do Cruzeiro, eu recebi o melhor “ovo de páscoa” do mundo naquele sorriso de quando entreguei o maior “ovo de páscoa do supermercado”.

Eu não preciso de chocolate. E eu acho que este é o real significado da ressureição.

Este foi o melhor caminho de farinha de trigo que segui em minha vida.

Obrigado menininha de olhos negros, arregalados, grandes e por pouco felizes.

 

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Snow Patrol–Open your eyes

“The anger swells in my guts

And I won't feel these slices and cuts

I want so much to open your eyes

´Cause I need you to look into mine

Tell me that you'll open your eyes”

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Ademais, Feliz Páscoa.

E ressuscitem.

sábado, 16 de abril de 2011

há calma

A serenidade e o vagar contrariam a calma.

 

“De onde vem a calma?”

 

Por diversas vezes eu ironizei e julguei-a como passividade.

Ausência de ato, inércia, indiferença.

E meus conceitos tornaram-se resolutos.

Num baile de máscaras, sem valsa ou tango.

Sem nomes falsos, eu satirizo meu livro inacabado.

 

A calma vem da celeuma.

A calma encontra as frestas do calor da discussão.

A calma é acalorada. É algazarra de fim de noite.

A calma é prima da polêmica.

A calma vem dos pensamentos sórdidos de noites mal dormidas.

A calma  é arrebatadora.

A calma faz chorar, doer.. é um louco, demente.

A calma vem singela jogando charme.

E conquista como um desejo sexual.

A calma é ereção.

O gozo é o desamparo.

O cigarro, o desapego.

A vida é casual.

A calma é o sucesso do acaso.

 

A calma vem do desespero do vício

A calma vem do  segredo da dúvida.

 

A calma é o reflexo de luz indecisa sobre as cartas na nossa mesa.

 

E na diplomacia do medo de não haver o que há por vir, há calma.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

imagem de falsa divindade que é objeto de culto.

sem definição:

 

- Isso acontece ainda agora de você produzir alguma coisa e rasgar?

Eu deixo de lado... Não, eu rasgo sim.

- É produto de reflexão ou de uma emoção?

Raiva, um pouco de raiva...

- Com quem?

Comigo mesma...

- Por que, Clarice?

Sei lá, estou meio cansada...

- Do quê?

De mim mesma...

- Mas você não renasce e se renova a cada trabalho novo?

Bom, agora eu morrí... Mas vamos ver se eu renasço de novo. Por enquanto eu estou morta... Estou falando do meu túmulo.

 

…………

a fábula das cicatrizes de asas coloridas.

 

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A borboleta é considerada um símbolo de ligeireza e de inconstância, de transformação e de um novo começo.

As mariposas de colorações mais vibrantes habitam regiões tropicais, e muitas delas podem ser venenosas, como é o caso da Campylotes kotzchi, nativa da Índia. Essa espécie se alimenta de folhas tóxicas e absorvem um pouco do veneno - é assim que ela escapa do cardápio dos pássaros.

 

Nosso “mercado” tem sido alvo de muitos corvos, urubus e gaviões, que tem o poder instituído por uma comunidade imensa de pardais.

Insossos, os pardais contentam-se com pouco, tão pouco que constroem suas casas nos vãos dos beirais e esquecem o quão linda seria a construção em ambientes mais pitorescos distantes da poluição urbana.

Num mercado de valorização do corpo, deveras alienado, as borboletas temiam o mundo fora do casulo.

Um urubu, renomado deputado, num momento não singular, pensa ser galo e na onda do rouxinol expõe o mais putrefato dos cantos.

Tal qual mágica, os casulos tomaram sua forma mais combalida. E algumas daquelas lagartas que tinham experimentado das mais diversas substâncias tóxicas, ressurgiram, sublimes, com asas coloridas, entretanto marcadas por cicatrizes.

E neste mercado tomado pela cultura ao corpo, algumas destas criaturas mostraram algo a mais.

Algumas que souberam se alimentar do tóxico, tem mostrado cores vibrantes e cada gota da cicuta amarga da vida.

Os pardais, não mais tão insossos, descobriram que os limites da selva de pedra não eram suficientemente cartesianos.

Numa evolução constante, a comunidade resolveu mostrar sua variedade de bicos. Vários descobriram que são gaviões, urubus e corvos. Entretanto vários descobriram o voo longo da gaivota, o mergulho sublime dos martins, o andar desengonçado dos pinguins, a imponência dos cisnes, a alegria das maritacas.

Alguns continuam a ser pardais e só pardais.

Outros descobriram como é lindo o canto do canário belga e tem anunciado a chegada de um mundo sem gaiolas e arapucas.

A grande maioria deles descobriu que estas novas borboletas possuem asas frágeis, de uma cor vibrante, que podem envenenar o mundo, mas que só querem voar por ai.

“Borboleta pequenina saia fora do rosal”

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In a parallel context:

Esta foi uma das postagem de mais difícil denominação. Vale a pena listar as variantes:

  • pássaros coloridos
  • as asas invisíveis
  • o ninho das borboletas
  • quando um pardal sofre metamorfose
  • o veneno para os corvos
  • as penas das borboleta
  • o canto do canário sobre a carniça
  • o fim das gaiolas das borboletas
  • casulos combalidos
  • a instabilidade do mercado quando há uma “borboleta pequenina que vem para nos saudar…”.