interessado em alguma bobagem

sexta-feira, 20 de junho de 2008

terça-feira, 17 de junho de 2008

insensível insegurança

Tornei-me indigesto a sociedade.
Pelos fatos ou atos.
Pelos porquês sem não.
Estou hospedado na solitude do mundo.
Escondido pelo vício, ao infortúnio.
A descarga de civilizações pré-cambrianas alimenta-me.
(Goiânia, junho de 2008)

os valores distorcidos em voga


ENSAIO

O paradoxo do sexo

Há, de fato, mais ou menos liberdade de acordo com as opções sexuais?

Por Francisco Bosco

Alguns acontecimentos recentes permitem apontarmos um paradoxo no modo como se pensa a sexualidade hoje, no Brasil, ou pelo menos nas suas cidades maiores e mais cosmopolitas. Vejamos os dois lados contraditórios da moeda. De um lado, têm se tornado freqüentes as declarações públicas de celebridades a respeito de sua sexualidade plenamente livre: gosto de homens, gosto de mulheres, sou bi, tri, penta, e o que mais tiver vontade de ser. Ora, do ponto de vista ético, isso está perfeito: cada um agindo de acordo com seu desejo, desde que esse desejo não interfira na liberdade do de outras pessoas. O problema, entretanto, está nessa concepção de sexualidade e, simultaneamente, na concepção de liberdade de que se faz o elogio, vinculando uma coisa à outra.

Já faz mais de um século que Freud, em seu revolucionário "Três ensaios sobre a teoria da sexualidade", afirmou que entre a pulsão sexual e seu objeto não existe uma relação inata e com uma direção normal, mas sim, para usar a sua precisa metáfora, uma solda. Todo sujeito possui uma quantidade de energia sexual (libido), mas os objetos sexuais sobre os quais o sujeito investirá essa energia são independentes dela mesma. Trocando em miúdos, ninguém nasce heterossexual, homossexual, bissexual, multissexual; no princípio há apenas a libido. Isso, entretanto, não significa que a pulsão sexual de cada sujeito poderá escolher, em sua vida adulta, qualquer objeto que sua vontade determinar. A "escolha" dos objetos vai sendo determinada pela singularidade da formação do sujeito, por meio de tramas complexas, identificações, alienações constitutivas, marcas, recalques etc. Está claro que escrevi "escolha" assim, entre aspas, porque o que está em jogo tem pouco ou nada de voluntário.

Não quero com isso incorrer num fatalismo da formação da sexualidade, que determinaria para todo sempre o destino da mesma em cada sujeito. Acredito que há acontecimentos na vida que podem mudar as regras do jogo, transformando o sujeito no cerne mesmo de suas fantasias, isto é, efetuando rupturas, abrindo novos caminhos, reconfigurando sua sexualidade. Mas esses acontecimentos não são propriamente cotidianos, são raros; ou seja, a sexualidade não é um campo plenamente livre, no sentido de uma tabula rasa a se deixar escrever por escolhas conscientes, voluntárias. Mesmo um sujeito com uma sexualidade que permite uma ampla gama de escolhas de objetos é um sujeito marcado pela determinação de seu desejo. Essa possibilidade é tão singular e marcada por uma história pessoal quanto qualquer outra. Um sujeito bissexual não me parece mais livre, sob essa perspectiva, do que um heterossexual homofóbico, por exemplo.

Mas o que é ainda mais questionável é a própria concepção de liberdade que está em jogo nessa declaração de irrestrita e incondicionada liberdade de escolha objetal. Ao associar a liberdade ao poder de escolher entre uma multiplicidade ilimitada de objetos sexuais, o que parece ocorrer é uma extensão do ditame do hiperconsumo à esfera da sexualidade. No entanto todos sabemos que não somos necessariamente mais felizes por poder escolher um perfume numa loja que os tem aos milhares. Portanto fica a pergunta: haverá mesmo alguma vantagem existencial em se representar a sexualidade sob a lógica do free shop?

Liberdade sexual
Por outro lado, o episódio envolvendo o jogador Ronaldo e três travestis fez vir à tona o avesso daquela liberdade improvável: a homofobia, a hipocrisia, o machismo, o conservadorismo, em suma, o que há de pior nas representações sociais da sexualidade. Ronaldo está sendo condenado, digo, massacrado, porque pegou travestis para fazer um programa. Não nos confundamos: o massacre nada tem a ver com o possível consumo de drogas pelo jogador, com o fato de ele ter se envolvido com prostituição ou com as implicações éticas que esse ato traz à sua relação amorosa (ele está, ou estava, noivo). As pessoas que o condenam parecem autorizar o consumo ilegal de drogas, o sexo pago e a "traição" masculina (não vou entrar no mérito desses três pontos), mas se sentem aviltadas por um ídolo ter ido parar num motel com travestis.

Pior, o próprio Ronaldo faz coro aos que o julgam. A entrevista que ele concedeu ao Fantástico, no dia 4 de maio, foi um dos momentos mais deploráveis da televisão brasileira. O jogador disse inúmeras vezes estar "profundamente envergonhado" por ter cometido um "erro gravíssimo" e assegurou todos quanto à sua heterossexualidade convicta. Argumentar que, em o fazendo, Ronaldo estava pensando na manutenção de seus contratos de publicidade apenas reforça o que se deve dizer com todas as letras: Ronaldo comportou-se como um covarde, um hipócrita, e subscreveu a pressão homofóbica. Se houve "erro gravíssimo" de Ronaldo, e houve, foi esse: o de admitir uma culpa que não lhe cabe e, com isso, contribuir para a falta de liberdade sexual de nossa sociedade.

Assim verificamos o paradoxo a que o título dessa coluna se refere. De um lado - entre os "artistas", as celebridades e os "descolados" - apresenta-se uma concepção duvidosa da sexualidade e uma concepção ainda mais duvidosa da liberdade; de outro, apresenta-se uma concepção normatizante da sexualidade, que condena qualquer suposto desvio e, assim, atenta contra a liberdade da sexualidade. Em meio a isso, que idéia mais vantajosa de liberdade podemos oferecer? Já será um grande passo se conseguirmos realizar essa, de tão simples aparência: que cada sujeito possa exercer a sexualidade de acordo com seu desejo, desde que não oprima o desejo do outro.

Revista CULT.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

foto

É, eu sei !
Que tudo não passa de momento
De sorriso estipulado
De uma pose para foto
Aquele sorriso pálido
Aquele gesto engraçado
E tudo passou!
E não volta!
Aquele gesto de amigo ,
Aquele abraço ,
E aquele amor ,
De viver na lua ,
A estar no ponto ,
Da surpresa do flash ,
De não focar o merecido ,
E é só uma pressão .
Que vale a lógica ,
Que tira a graça ,
Que traz o sorriso.
E você pensa e nem lembra,
Que aquilo vai lhe trazer saudade...
(Ouro Preto, 2002)

quarta-feira, 11 de junho de 2008

deus da ufop





Se Deus existe...
Vive em Ouro Preto.
Há de ser jovem.
Não perder um CAEM.
Muito menos rock de República.
Namorar nos fundos da São Francisco.
Ou apenas ficar nos amassos em qualquer beco.
Ver o pôr do sol ali nas Mercês.
Fumar algum atrás da Prefeitura.
Passar boas horas no Barroco.
Não, o cara deve ir ao Satélite.
Mas quem pensa que ele não estuda,
Deve acabar sendo algum de Letras, Filosofia ou História.
Ou quem sabe até da Ambiental.
Pode ser engraçado, extravagante,
Ou nem queira chamar muito a atenção.
Mas de qualquer maneira deve ser um cara legal.
Nas férias, ai sim vai pro céu.
Cuidar dos problemas dos um pouco mais normais...
(Ouro Preto, 2003)

pelo tempo que andei distante

Não foram poucos os motivos pelos quais eu me abstive a escrever. Nem todos foram motivos que escolhi. Mas há muitos que eu me abstenho a relatar.
Das escolhas efetuadas o aprendizado foi suficiente.
Dos acontecimentos inusitados o presente foi o choro que faz crescer. E este choro não faz só crescer. Faz muito mais que isso! Liga a auto-estima, quebra a hipocrisia, ensina os limites, define os amigos, insinua as respostas, ironiza o tempo, muda escolhas, relativiza atitudes e faz com que façamos muitas besteiras.
No mais eu não tenho escrito. Não que eu esteja triste. Há um período que é mais que isso. Ou menos?
Saudade de Ouro Preto, saudade de casa, saudade de colo de mãe, saudade de falta de vícios, saudade de abraços, saudade de momentos desinteressados, saudade de mim mesmo.
Eu estou me curtindo muito, de forma muito interessante.
Estou completamente apaixonado pelo meu nariz.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

ode ao amor fluido


Não vou usar estrofes simétricas,

a comuna não faz jus.


Eu quero da luxúria, o mais lascívo.

Quando a sombra apunhala,

quando a pureza condena,

eu quero a lama do fundo,

eu quero o amor fluido.

Prazer: o devasso.

Sem eufemismo : o puto.