domingo, 7 de dezembro de 2008
a sociedade correndo atrás
Do sem jeito, trejeito, lixo de viver
Que vi do que o tempo precisa
O que o passado realiza
E o que minha lógica não permite
Eu vi o que Deus insiste
O Diabo ironiza
E eu, finjo, não saber.
domingo, 2 de novembro de 2008
perguntas e algumas meias respostas e outras nem respostas assim
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"Bem". Funciona como um "Bom dia" ou "Boa noite". Às vezes nem se quer bem saber a resposta. Noutras, há uma vontade enorme de mandar a "puta que o pariu". E mesmo que esteja pensando em pular da sacada: "Bem".
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Onde você está?
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Estou onde deveria estar, ou onde me permitem estar, ou onde tenho que estar. Realmente isto influência o objetivo de nossa conversa?
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O que está fazendo?
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Escrevendo em um blog.
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Você está feliz?
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Não consigo definir bem o que seja isto. Se está ou se é feliz?
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Como está aí?
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Chovendo.
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Você está namorando?
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Vamos pra cama? Só sexo ou um relacionamento mais longo?
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E aí?
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E lá? E ali?
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O que você quer fazer?
sexta-feira, 31 de outubro de 2008
descolado
Se for assistir, eu sou quadrado.
quinta-feira, 30 de outubro de 2008
convém
Cordial furto do erudito.
Consciência vestida de verdades particulares.
Tranquilos?
Decentes?
Vícios e extravagâncias sem decoro.
Degenerados hábitos, que não atreve-se condenar.
Mesmo sangue d'alma.
Entremesclado de luz e ódio.
Mascarado nicho, nu, do inferno.
Decerto bebi e beijei-lhe inocente.
Pacífico.
Infantil e esquecido.
Amargo.
O mundo torna-lhe assim.
Independência,
Diante de nuances suaves e não menos irônicas
Convém, convém.
Meu bem.
Convém
Pois eu tenho acordado sem dormir.
cosmo-metro-pole-ita
do Horizonte Preto
do Bra-z-il Central
Acima das descobertas Uberlandenses
Eu vou levando
Esperando o tempo que passa
Pensando em Patrocínio.
terça-feira, 28 de outubro de 2008
bancos na esquina
Espanto os modos.
Eu choro.
Meu animo, eu influencio.
Da bancada da feira da vida,
Eu molho minhas incertezas.
Finita metrópole.
Remonto o tempo,
Crio os amigos.
Escondo o desconto de um Setembro.
Insisto em descansar,
Cada olhar.
Passeio, na vida
Extraio o saldo de ter sido feliz.
eu li em um muro que...
E a luz de ontem que não brilha hoje.
Cortes. Dos que, brancos, não sofrem.
Bendita seja a tristeza da saudade.
Feliz, a noite de quem me deixa só.
terça-feira, 2 de setembro de 2008
estes ideais que se podem alcançar....
domingo, 31 de agosto de 2008
pretérito sem passado
Saudade
sexta-feira, 22 de agosto de 2008
nudez
saliva...
eu sou o vento....
eu sou o que não toco...
topo, paro... olho...
desinteressado...
nú...
pequeno mundo....
onde as crianças choram
e os adultos pensam que são felizes...
tempo...
tem muito que choro...
quinta-feira, 14 de agosto de 2008
andei lendo max weber
Patrícia Roeser sempre me trás boas influências...
santos pecados de nós quatro
Como santos de um futuro ilusório
Somos sensatos na presença de humanos
Como imortais transfigurados num palácio de semideuses
Louvamos o lixo e o egocentrismo
Esquecemos tal centro, que se tornou latrina.
Fomos pobres ricos, pois fomos amigos.
Unimos ao útil o agradável ódio
Falaram tão mal que nos tornamos superiores
Fomos deuses numa terra de cego
Vimos o que ninguém viu
Louvamos uns aos outros
Mas esquecemos que não nos bastávamos.
domingo, 10 de agosto de 2008
os "indo embora"
quinta-feira, 7 de agosto de 2008
barbárie cotidiana (segunda publicação)
Imitação pedante das montanhas de lá
Gratidão às doutrinas discutíveis
Destruição natural da natureza que não é divina
Virtudes cheias de cobiça
Os amigos de ontem e o sexo de hoje
Opção da vergonha do filho, refletida na pupila do pai
Abnegação impiedosa da pré-moral instintiva.
Hábitos poderosos nos jejuns impostos e recorrentes
Saudades idealistas e afeminadas
Autodesnudamento do choro que não consigo justificar
Omissão no privilégio raro das máscaras que não refletem.
Eu confesso o eterno mal-entendido.
O silêncio do jogo
O sofrimento que ele proporciona.
segunda-feira, 7 de julho de 2008
sen ti minto ou viu
sombra
do, me dou
as faltas
o jejum
o singular
falsetes
prazer
prazeres
pra seres
pra quem? voltaste
medo
medo
medo
medo
medo
medo
medo
quero o luto do pensamento
quero o luto do sentir
sem ti minto
fujo
do medo
do medo
do medo
do mesmo medo
medo
medo
medo e um pouco mais de medo
medo
eu. medo. deste mesmo medo
medo
medo medo
quarta-feira, 2 de julho de 2008
entendo
sem novo...
Se nem Clarice entende... alguém explique o meu futuro... alguma coisa pra que eu pense em deixar de pensar...
O Ovo e a galinha
De manhã na cozinha sobre a mesa vejo o ovo.
Olho o ovo com um só olhar. Imediatamente percebo que não se pode estar vendo um ovo. Ver o ovo nunca se mantêm no presente: mal vejo um ovo e já se torna ter visto o ovo há três milênios. – No próprio instante de se ver o ovo ele é a lembrança de um ovo. – Só vê o ovo quem já o tiver visto. – Ao ver o ovo é tarde demais: ovo visto, ovo perdido. – Ver o ovo é a promessa de um dia chegar a ver o ovo. – Olhar curto e indivisível; se é que há pensamento; não há; há o ovo. – Olhar é o necessário instrumento que, depois de usado, jogarei fora. Ficarei com o ovo. – O ovo não tem um si-mesmo. Individualmente ele não existe.
Ver o ovo é impossível: o ovo é supervisível como há sons supersônicos. Ninguém é capaz de ver o ovo. O cão vê o ovo? Só as máquinas vêem o ovo. O guindaste vê o ovo. – Quando eu era antiga um ovo pousou no meu ombro. – O amor pelo ovo também não se sente. O amor pelo ovo é supersensível. A gente não sabe que ama o ovo. – Quando eu era antiga fui depositária do ovo e caminhei de leve para não entornar o silêncio do ovo. Quando morri, tiraram de mim o ovo com cuidado. Ainda estava vivo. – Só quem visse o mundo veria o ovo. Como o mundo o ovo é óbvio.
O ovo não existe mais. Como a luz de uma estrela já morta, o ovo propriamente dito não existe mais. – Você é perfeito, ovo. Você é branco. – A você dedico o começo. A você dedico a primeira vez.
Ao ovo dedico a nação chinesa.
O ovo é uma coisa suspensa. Nunca pousou. Quando pousa, não foi ele quem pousou. Foi uma coisa que ficou embaixo do ovo. – Olho o ovo na cozinha com atenção superficial para não quebrá-lo. Tomo o maior cuidado de não entendê-lo. Sendo impossível entendê-lo, sei que se eu o entender é porque estou errando. Entender é a prova do erro. Entendê-lo não é o modo de vê-lo. – Jamais pensar no ovo é um modo de tê-lo visto. – Será que sei do ovo? É quase certo que sei. Assim: existo, logo sei. – O que eu não sei do ovo é o que realmente importa. O que eu não sei do ovo me dá o ovo propriamente dito. – A Lua é habitada por ovos.
O ovo é uma exteriorização. Ter uma casca é dar-se.- O ovo desnuda a cozinha. Faz da mesa um plano inclinado. O ovo expõe. – Quem se aprofunda num ovo, quem vê mais do que a superfície do ovo, está querendo outra coisa: está com fome.
O ovo é a alma da galinha. A galinha desajeitada. O ovo certo. A galinha assustada. O ovo certo. Como um projétil parado. Pois ovo é ovo no espaço. Ovo sobre azul. – Eu te amo, ovo. Eu te amo como uma coisa nem sequer sabe que ama outra coisa. – Não toco nele. A aura de meus dedos é que vê o ovo. Não toco nele – Mas dedicar-me à visão do ovo seria morrer para a vida mundana, e eu preciso da gema e da clara. – O ovo me vê. O ovo me idealiza? O ovo me medita? Não, o ovo apenas me vê. É isento da compreensão que fere. – O ovo nunca lutou. Ele é um dom. – O ovo é invisível a olho nu. De ovo a ovo chega-se a Deus, que é invisível a olho nu. – O ovo terá sido talvez um triângulo que tanto rolou no espaço que foi se ovalando. – O ovo é basicamente um jarro? Terá sido o primeiro jarro moldado pelos etruscos ? Não. O ovo é originário da Macedônia. Lá foi calculado, fruto da mais penosa espontaneidade. Nas areias da Macedônia um homem com uma vara na mão desenhou-o. E depois apagou-o com o pé nu.
O ovo é coisa que precisa tomar cuidado. Por isso a galinha é o disfarce do ovo. Para que o ovo atravesse os tempos a galinha existe. Mãe é para isso. – O ovo vive foragido por estar sempre adiantado demais para a sua época. – O ovo por enquanto será sempre revolucionário. – Ele vive dentro da galinha para que não o chamem de branco. O ovo é branco mesmo. Mas não pode ser chamado de branco. Não porque isso faça mal a ele, mas as pessoas que chamam ovo de branco, essas pessoas morrem para a vida. Chamar de branco aquilo que é branco pode destruir a humanidade. Uma vez um homem foi acusado de ser o que ele era, e foi chamado de Aquele Homem. Não tinham mentido: Ele era. Mas até hoje ainda não nos recuperamos, uns após outros. A lei geral para continuarmos vivos: pode-se dizer “um rosto bonito”, mas quem disser “O rosto”, morre; por ter esgotado o assunto.
Com o tempo, o ovo se tornou um ovo de galinha. Não o é. Mas, adotado, usa-lhe o sobrenome. – Deve-se dizer “o ovo da galinha”. Se eu disser apenas “o ovo”, esgota-se o assunto, e o mundo fica nu. – Em relação ao ovo, o perigo é que se descubra o que se poderia chamar de beleza, isto é, sua veracidade. A veracidade do ovo não é verossímil. Se descobrirem, podem querer obrigá-lo a se tornar retangular. O perigo não é para o ovo, ele não se tornaria retangular. (Nossa garantia é que ele não pode: não poder é a grande força do ovo: sua grandiosidade vem da grandeza de não poder, que se irradia como um não querer.) Mas quem lutasse por torná-lo retangular estaria perdendo a própria vida. O ovo nos expõe, portanto, em perigo. Nossa vantagem é que o ovo é invisível. E quanto aos iniciados, os iniciados disfarçam o ovo.
Quanto ao corpo da galinha, o corpo da galinha é a maior prova de que o ovo não existe. Basta olhar para a galinha para se tornar óbvio que o ovo é impossível de existir.
E a galinha? O ovo é o grande sacrifício da galinha. O ovo é a cruz que a galinha carrega na vida. O ovo é o sonho inatingível da galinha. A galinha ama o ovo. Ela não sabe que existe o ovo. Se soubesse que tem em si mesma o ovo, perderia o estado de galinha. Ser galinha é a sobrevivência da galinha. Sobreviver é a salvação. Pois parece que viver não existe. Viver leva a morte. Então o que a galinha faz é estar permanentemente sobrevivendo. Sobreviver chama-se manter luta contra a vida que é mortal. Ser galinha é isso. A galinha tem o ar constrangido.
É necessário que a galinha não saiba que tem um ovo. Senão ela se salvaria como galinha, o que também não é garantido, mas perderia o ovo. Então ela não sabe. Para que o ovo use a galinha é que a galinha existe. Ela era só para se cumprir, mas gostou. O desarvoramento da galinha vem disso: gostar não fazia parte de nascer. Gostar de estar vivo dói. – Quanto a quem veio antes, foi o ovo que achou a galinha. A galinha não foi sequer chamada. A galinha é diretamente uma escolhida. – A galinha vive como em sonho. Não tem senso de realidade. Todo o susto da galinha é porque estão sempre interrompendo o seu devaneio. A galinha é um grande sono. – A galinha sofre de um mal desconhecido. O mal desconhecido é o ovo. – Ela não sabe se explicar: “ sei que o erro está em mim mesma”, ela chama de erro a vida, “não sei mais o que sinto”, etc.
“Etc., etc., etc.,” é o que cacareja o dia inteiro a galinha. A galinha tem muita vida interior. Para falar a verdade a galinha só tem mesmo é vida interior. A nossa visão de sua vida interior é o que chamamos de “galinha”. A vida interior na galinha consiste em agir como se entendesse. Qualquer ameaça e ela grita em escândalo feito uma doida. Tudo isso para que o ovo não se quebre dentro dela. Ovo que se quebra dentro de galinha é como sangue.
A galinha olha o horizonte. Como se da linha do horizonte é que viesse vindo um ovo. Fora de ser um meio de transporte para o ovo, a galinha é tonta, desocupada e míope. Como poderia a galinha se entender se ela é a contradição de um ovo? O ovo ainda é o mesmo que se originou na Macedônia. A galinha é sempre tragédia mais moderna. Está sempre inutilmente a par. E continua sendo redesenhada. Ainda não se achou a forma mais adequada para uma galinha. Enquanto meu vizinho atende ao telefone ele redesenha com lápis distraído a galinha. Mas para a galinha não há jeito: está na sua condição não servir a si própria. Sendo, porém, o seu destino mais importante que ela, e sendo o seu destino o ovo, a sua vida pessoal não nos interessa.
Dentro de si a galinha não reconhece o ovo, mas fora de si também não o reconhece. Quando a galinha vê o ovo pensa que está lidando com uma coisa impossível. É com o coração batendo, com o coração batendo tanto, ela não o reconhece.
De repente olho o ovo na cozinha e vejo nele a comida. Não o reconheço, e meu coração bate. A metamorfose está se fazendo em mim: começo a não poder mais enxergar o ovo. Fora de cada ovo particular, fora de cada ovo que se come, o ovo não existe. Já não consigo mais crer num ovo. Estou cada vez mais sem força de acreditar, estou morrendo, adeus, olhei demais um ovo e ele me foi adormecendo.
A galinha não queria sacrificar a sua vida. A que optou por querer ser “feliz”. A que não percebia que, se passasse a vida desenhando dentro de si como numa iluminura o ovo, ela estaria servindo. A que não sabia perder-se a si mesma. A que pensou que tinha penas de galinha para se cobrir por possuir pele preciosa, sem entender que as penas eram exclusivamente para suavizar, a travessia ao carregar o ovo, porque o sofrimento intenso poderia prejudicar o ovo. A que pensou que o prazer lhe era um dom, sem perceber que era para que ela se distraísse totalmente enquanto o ovo se faria. A que não sabia que “eu” é apenas uma das palavras que se desenham enquanto se atende ao telefone, mera tentativa de buscar forma mais adequada. A que pensou que “eu” significa ter um si-mesmo. As galinhas prejudiciais ao ovo são aquelas que são um “eu” sem trégua. Nelas o “eu” é tão constante que elas já não podem mais pronunciar a palavra “ovo”. Mas, quem sabe, era disso mesmo que o ovo precisava. Pois se elas não estivessem tão distraídas, se prestassem atenção à grande vida que se faz dentro delas, atrapalhariam o ovo.
Comecei a falar da galinha e há muito já não estou falando mais da galinha. Mas ainda estou falando do ovo.
E eis que não entendo o ovo. Só entendo o ovo quebrado: quebro-o na frigideira. É deste modo indireto que me ofereço à existência do ovo: meu sacrifício é reduzir-me à minha própria vida pessoal. Fiz do meu prazer e da minha dor o meu destino disfarçado. E ter apenas a própria vida é, para quem viu o ovo, um sacrifício. Como aqueles que, no convento, varrem o chão e lavam a roupa, servindo sem a glória de função maior, meu trabalho é o de viver os meus prazeres e as minhas dores. É necessário que eu tenha a modéstia de viver.
Pego mais um ovo na cozinha, quebro-lhe a casca e forma. E a partir deste instante exato nunca existiu um ovo. É absolutamente indispensável que eu seja uma ocupada e uma distraída. Sou indispensavelmente um dos que renegam. Faço parte da maçonaria dos que viram uma vez o ovo e o renegam como forma de protegê-lo. Somos os que se abstêm de destruir, e nisso se consomem. Nós, agentes disfarçados e distribuídos pelas funções menos reveladoras, nós às vezes nos reconhecemos. A um certo modo de olhar, há um jeito de dar a mão, nós nos reconhecemos e a isto chamamos de amor. E então, não é necessário o disfarce: embora não se fale, também não se mente, embora não se diga a verdade, também não é necessário dissimular. Amor é quando é concedido participar um pouco mais. Poucos querem o amor, porque o amor é a grande desilusão de tudo o mais. E poucos suportam perder todas as outras ilusões. Há os que voluntariam para o amor, pensando que o amor enriquecerá a vida pessoal. É o contrário: amor é finalmente a pobreza. Amor é não ter. Inclusive amor é a desilusão do que se pensava que era amor. E não é prêmio, por isso não envaidece, amor não é prêmio, é uma condição concedida exclusivamente para aqueles que, sem ele, corromperiam o ovo com a dor pessoal. Isso não faz do amor uma exceção honrosa; ele é exatamente concedido aos maus agentes, àqueles que atrapalhariam tudo se não lhes fosse permitido adivinhar vagamente.
A todos os agentes são dadas muitas vantagens para que o ovo se faça. Não é o caso de se ter inveja pois, inclusive algumas das condições, piores do que as dos outros, são apenas as condições ideais para o ovo. Quanto ao prazer dos agentes, eles também o recebem sem orgulho. Austeramente vivem todos os prazeres: inclusive é o nosso sacrifício para que o ovo se faça. Já nos foi imposta, inclusive uma natureza adequada a muito prazer. O que facilita. Pelo menos torna menos penoso o prazer.
Há casos de agentes que se suicidam: acham insuficientes as pouquíssimas instruções recebidas e se sentem sem apoio. Houve o caso do agente que revelou publicamente ser agente porque lhe foi intolerável não ser compreendido, e ele não suportava mais não ter o respeito alheio: morreu atropelado quando saía de um restaurante. Houve um outro que nem precisou ser eliminado: ele próprio se consumiu lentamente na sua revolta, sua revolta veio quando ele descobriu que as duas ou três instruções recebidas não incluíam nenhuma explicação. Houve outro também eliminado, porque achava que “a verdade deve ser corajosamente dita”, e começou em primeiro lugar a procurá-la; dele se disse que morreu em nome da verdade com sua inocência; sua aparente coragem era tolice, e era ingênuo o seu desejo de lealdade, ele compreendera que ser leal não é coisa limpa, ser leal é ser desleal para com todo o resto. Esses casos extremos de morte não são por crueldade. É que há um trabalho, digamos cósmico, a ser feito, e os casos individuais infelizmente não podem ser levados em consideração. Para os que sucumbem e se tornam individuais é que existem as instituições, a caridade, a compreensão que não discrimina motivos, a nossa vida humana enfim.
Os ovos estalam na frigideira, e mergulhada no sonho preparo o café da manhã. Sem nenhum senso da realidade, grito pelas crianças que brotam de várias camas, arrastam cadeiras e comem, e o trabalho do dia amanhecido começa, gritado e rido e comido, clara e gema, alegria entre brigas, dia que é o nosso sal e nós somos o sal do dia, viver é extremamente tolerável, viver ocupa e distrai, viver faz rir.
E me faz sorrir no meu mistério. O meu mistério é que eu ser apenas um meio, e não um fim, tem-me dado a mais maliciosa das liberdades: não sou boba e aproveito. Inclusive, faço um mal aos outros que, francamente. O falso emprego que me deram para disfarçar a minha verdadeira função, pois aproveito o falso emprego e dele faço o meu verdadeiro; inclusive o dinheiro que me dão como diária para facilitar a minha vida de modo a que o ovo se faça, pois esse dinheiro eu tenho usado para outros fins, desvio de verba, ultimamente comprei ações na Brahma e estou rica. A isso tudo ainda chamo de ter a necessária modéstia de viver. E também o tempo que me deram, e que nos dão apenas para que no ócio honrado o ovo se faça, pois tenho usado esse tempo para prazeres ilícitos e dores ilícitas, inteiramente esquecida do ovo. Esta é a minha simplicidade.
Ou é isso mesmo que eles querem que me aconteça, exatamente para que o ovo se cumpra? É liberdade ou estou sendo mandada? Pois venho notando que tudo que é erro meu tem sido aproveitado. Minha revolta é que para eles eu não sou nada, eu sou apenas preciosa: eles cuidam de mim segundo por segundo, com a mais absoluta falta de amor; sou apenas preciosa. Com o dinheiro que me dão, ando ultimamente bebendo. Abuso de confiança? Mas é que ninguém sabe como se sente por dentro aquele cujo emprego consiste em fingir que está traindo, e que termina acreditando na própria traição. Cujo emprego consiste em diariamente esquecer. Aquele de quem é exigida a aparente desonra. Nem meu espelho reflete mais um rosto que seja meu. Ou sou um agente, ou é a traição mesmo.
Mas durmo o sono dos justos por saber que minha vida fútil não atrapalha a marcha do grande tempo. Pelo contrário: parece que é exigido de mim que eu seja extremamente fútil, é exigido de mim inclusive que eu durma como justo. Eles me querem preocupada e distraída, e não lhes importa como. Pois, com minha atenção errada e minha tolice grave, eu poderia atrapalhar o que se está fazendo através de mim. É que eu própria, eu propriamente dita, só tenho mesmo servido para atrapalhar. O que me revela que talvez eu seja um agente é a idéia de que meu destino me ultrapassa: pelo menos isso eles tiveram mesmo que me deixar adivinhar, eu era daqueles que fariam mal o trabalho se ao menos não adivinhassem um pouco; fizeram-me esquecer o que me deixaram adivinhar, mas vagamente ficou-me a noção de que meu destino me ultrapassa, e de que sou instrumento do trabalho deles. Mas de qualquer modo era só instrumento que eu poderia ser, pois o trabalho não poderia ser mesmo meu. Já experimentei me estabelecer por conta própria e não deu certo; ficou-me até hoje essa mão trêmula. Tivesse eu insistido um pouco mais e teria perdido para sempre a saúde. Desde então, desde essa malograda experiência, procuro raciocinar desse modo: que já me foi dado muito, que eles já me concederam tudo o que pode ser concedido; e que os outros agentes, muito superiores a mim, também trabalharam apenas para o que não sabiam. E com as mesmas pouquíssimas instruções. Já me foi dado muito; isto, por exemplo: uma vez ou outra, com o coração batendo pelo privilégio, eu pelo menos sei que não estou reconhecendo! Com o coração batendo de emoção, eu pelo menos não compreendo! Com o coração batendo de confiança, eu pelo menos não sei.
Mas e o ovo? Este é um dos subterfúgios deles: enquanto eu falava sobre o ovo, eu tinha esquecido do ovo. “Falai, falai”, instruíram-me eles. E o ovo fica inteiramente protegido por tantas palavras. Falai muito, é uma das instruções, estou tão cansada.
Por devoção ao ovo, eu o esqueci. Meu necessário esquecimento. Meu interesseiro esquecimento. Pois o ovo é um esquivo. Diante de minha adoração possessiva ele poderia retrair-se e nunca mais voltar. Mas se ele for esquecido. Se eu fizer o sacrifício de esquecê-lo. Se o ovo for impossível. Então – livre, delicado, sem mensagem alguma para mim – talvez uma vez ainda ele se locomova do espaço até esta janela que desde sempre deixei aberta. E de madrugada baixe no nosso edifício. Sereno até a cozinha. Iluminando-a de minha palidez.
sábado, 21 de junho de 2008
sexta-feira, 20 de junho de 2008
terça-feira, 17 de junho de 2008
insensível insegurança
Pelos fatos ou atos.
Pelos porquês sem não.
Estou hospedado na solitude do mundo.
Escondido pelo vício, ao infortúnio.
A descarga de civilizações pré-cambrianas alimenta-me.
os valores distorcidos em voga
ENSAIO
O paradoxo do sexo
Há, de fato, mais ou menos liberdade de acordo com as opções sexuais?
Por Francisco Bosco
Alguns acontecimentos recentes permitem apontarmos um paradoxo no modo como se pensa a sexualidade hoje, no Brasil, ou pelo menos nas suas cidades maiores e mais cosmopolitas. Vejamos os dois lados contraditórios da moeda. De um lado, têm se tornado freqüentes as declarações públicas de celebridades a respeito de sua sexualidade plenamente livre: gosto de homens, gosto de mulheres, sou bi, tri, penta, e o que mais tiver vontade de ser. Ora, do ponto de vista ético, isso está perfeito: cada um agindo de acordo com seu desejo, desde que esse desejo não interfira na liberdade do de outras pessoas. O problema, entretanto, está nessa concepção de sexualidade e, simultaneamente, na concepção de liberdade de que se faz o elogio, vinculando uma coisa à outra.
Já faz mais de um século que Freud, em seu revolucionário "Três ensaios sobre a teoria da sexualidade", afirmou que entre a pulsão sexual e seu objeto não existe uma relação inata e com uma direção normal, mas sim, para usar a sua precisa metáfora, uma solda. Todo sujeito possui uma quantidade de energia sexual (libido), mas os objetos sexuais sobre os quais o sujeito investirá essa energia são independentes dela mesma. Trocando em miúdos, ninguém nasce heterossexual, homossexual, bissexual, multissexual; no princípio há apenas a libido. Isso, entretanto, não significa que a pulsão sexual de cada sujeito poderá escolher, em sua vida adulta, qualquer objeto que sua vontade determinar. A "escolha" dos objetos vai sendo determinada pela singularidade da formação do sujeito, por meio de tramas complexas, identificações, alienações constitutivas, marcas, recalques etc. Está claro que escrevi "escolha" assim, entre aspas, porque o que está em jogo tem pouco ou nada de voluntário.
Não quero com isso incorrer num fatalismo da formação da sexualidade, que determinaria para todo sempre o destino da mesma em cada sujeito. Acredito que há acontecimentos na vida que podem mudar as regras do jogo, transformando o sujeito no cerne mesmo de suas fantasias, isto é, efetuando rupturas, abrindo novos caminhos, reconfigurando sua sexualidade. Mas esses acontecimentos não são propriamente cotidianos, são raros; ou seja, a sexualidade não é um campo plenamente livre, no sentido de uma tabula rasa a se deixar escrever por escolhas conscientes, voluntárias. Mesmo um sujeito com uma sexualidade que permite uma ampla gama de escolhas de objetos é um sujeito marcado pela determinação de seu desejo. Essa possibilidade é tão singular e marcada por uma história pessoal quanto qualquer outra. Um sujeito bissexual não me parece mais livre, sob essa perspectiva, do que um heterossexual homofóbico, por exemplo.
Mas o que é ainda mais questionável é a própria concepção de liberdade que está em jogo nessa declaração de irrestrita e incondicionada liberdade de escolha objetal. Ao associar a liberdade ao poder de escolher entre uma multiplicidade ilimitada de objetos sexuais, o que parece ocorrer é uma extensão do ditame do hiperconsumo à esfera da sexualidade. No entanto todos sabemos que não somos necessariamente mais felizes por poder escolher um perfume numa loja que os tem aos milhares. Portanto fica a pergunta: haverá mesmo alguma vantagem existencial em se representar a sexualidade sob a lógica do free shop?
Liberdade sexual
Pior, o próprio Ronaldo faz coro aos que o julgam. A entrevista que ele concedeu ao Fantástico, no dia 4 de maio, foi um dos momentos mais deploráveis da televisão brasileira. O jogador disse inúmeras vezes estar "profundamente envergonhado" por ter cometido um "erro gravíssimo" e assegurou todos quanto à sua heterossexualidade convicta. Argumentar que, em o fazendo, Ronaldo estava pensando na manutenção de seus contratos de publicidade apenas reforça o que se deve dizer com todas as letras: Ronaldo comportou-se como um covarde, um hipócrita, e subscreveu a pressão homofóbica. Se houve "erro gravíssimo" de Ronaldo, e houve, foi esse: o de admitir uma culpa que não lhe cabe e, com isso, contribuir para a falta de liberdade sexual de nossa sociedade.
Assim verificamos o paradoxo a que o título dessa coluna se refere. De um lado - entre os "artistas", as celebridades e os "descolados" - apresenta-se uma concepção duvidosa da sexualidade e uma concepção ainda mais duvidosa da liberdade; de outro, apresenta-se uma concepção normatizante da sexualidade, que condena qualquer suposto desvio e, assim, atenta contra a liberdade da sexualidade. Em meio a isso, que idéia mais vantajosa de liberdade podemos oferecer? Já será um grande passo se conseguirmos realizar essa, de tão simples aparência: que cada sujeito possa exercer a sexualidade de acordo com seu desejo, desde que não oprima o desejo do outro.
Revista CULT.
sexta-feira, 13 de junho de 2008
foto
Que tudo não passa de momento
De sorriso estipulado
De uma pose para foto
Aquele sorriso pálido
Aquele gesto engraçado
E tudo passou!
E não volta!
Aquele gesto de amigo ,
Aquele abraço ,
E aquele amor ,
De viver na lua ,
A estar no ponto ,
Da surpresa do flash ,
De não focar o merecido ,
E é só uma pressão .
Que vale a lógica ,
Que tira a graça ,
Que traz o sorriso.
E você pensa e nem lembra,
Que aquilo vai lhe trazer saudade...
quarta-feira, 11 de junho de 2008
deus da ufop
Vive em Ouro Preto.
Há de ser jovem.
Não perder um CAEM.
Muito menos rock de República.
Namorar nos fundos da São Francisco.
Ou apenas ficar nos amassos em qualquer beco.
Ver o pôr do sol ali nas Mercês.
Fumar algum atrás da Prefeitura.
Passar boas horas no Barroco.
Não, o cara deve ir ao Satélite.
Mas quem pensa que ele não estuda,
Deve acabar sendo algum de Letras, Filosofia ou História.
Ou quem sabe até da Ambiental.
Pode ser engraçado, extravagante,
Ou nem queira chamar muito a atenção.
Mas de qualquer maneira deve ser um cara legal.
Nas férias, ai sim vai pro céu.
Cuidar dos problemas dos um pouco mais normais...
pelo tempo que andei distante
Das escolhas efetuadas o aprendizado foi suficiente.
Dos acontecimentos inusitados o presente foi o choro que faz crescer. E este choro não faz só crescer. Faz muito mais que isso! Liga a auto-estima, quebra a hipocrisia, ensina os limites, define os amigos, insinua as respostas, ironiza o tempo, muda escolhas, relativiza atitudes e faz com que façamos muitas besteiras.
No mais eu não tenho escrito. Não que eu esteja triste. Há um período que é mais que isso. Ou menos?
Saudade de Ouro Preto, saudade de casa, saudade de colo de mãe, saudade de falta de vícios, saudade de abraços, saudade de momentos desinteressados, saudade de mim mesmo.
Eu estou me curtindo muito, de forma muito interessante.
Estou completamente apaixonado pelo meu nariz.
segunda-feira, 2 de junho de 2008
ode ao amor fluido
sexta-feira, 23 de maio de 2008
infinitude
terça-feira, 20 de maio de 2008
quinta-feira, 15 de maio de 2008
o pouco que me resta de depois
''É que sou um pouco antes. E só isso. Juro por Deus. E sou um pouco depois também."
Clarice.
Há aquela velha expressão interessante de se dizer: "Viver tudo intensamente como se fosse o último minuto."
Já disse isto várias vezes, e vivenciei bastante também. Não sei se é somente a idade, mas eu penso agora um pouco no antes e um pouco no depois. Me sinto bem tendo a consciência do presente, mas a interpretação que somente ele não me basta mais.
Mas como assim?
Tudo bem que pode ser devido a situação atual ou mesmo pela maturidade. Mas não quero viver somente de situações e muito menos de pensar em ser totalmente responsável, o que, diga-se de passagem, eu nunca fui.
Estar feliz é difícil, pois procuramos as frestas para toda a infelicidade possível.
O amor fluido pode adquirir a viscosidade necessária para ser eterno? Ou apenas a necessária para se viver bem por alguns meses? Ou nem mesmo possuir a viscosidade necessária e esvair-se pelo ar? Não sei. Um pouco depois, quem sabe, eu possa saber a resposta. Ou nunca me aproximar dela. Eis a intensidade de tudo. Eis a vontade de viver mais. Eis a possibilidade de se viver intensamente a cada minuto como se este fosse o último.
O não conhecer tudo me excita muito.
domingo, 11 de maio de 2008
as páginas que ainda podem ser redigidas
Minhas vitórias não são constantes.
Meu não saber é abusado.
Não é outono, mas há folhas sobre o chão.
Seu olhar pode ser mais óbvio.
Suas ambições menos paradoxais
Seu sorriso menos provocativo.
E sou eu as folhas que se encontram pelo chão.
E é a você que permito toda a história.
sábado, 3 de maio de 2008
ordinário não ser eu
da produtividade indiscriminada.
A felicidade do ter amigos.
O sono que não vem
ou não se tem.
A segunda que temo
dos anjos sem auréolas.
Medos indiscutíveis na mentira.
Ilusão de satisfação.
Intrusão generosa e medíocre.
Tesão reprimido.
Virgindade obsoleta.
Inocência sem pureza.
Verdades.
Quando abriremos nossos olhos?
eu não sei ser eu.
sexta-feira, 2 de maio de 2008
isonomias dos epitáfios
Autoritarismo é ter controle?
A paciência pode ser um fardo?
O controverso do estorvo é não estar onde se espera
Mas onde tem de se estar
Às vezes o não perdão é necessário.
As falhas são mais corretas que os acertos.
E o ontem é menos que amanhã
Sem flores amarelas e sem sono.
domingo, 27 de abril de 2008
eu ainda acredito nos homens
sexta-feira, 18 de abril de 2008
amontoados
Vícios da rotina
Desejo de esconder
Opaco parecer
Lugar único que só eu sei
Confusões de codinomes
Conhecer e aceitar
Furtar o tempo e as impressões
Visões sem alvo
História curta
Folhas sem chão
O que houve?
Onde eu estou?
e no amontoado de personalidades
eu sou
sábado, 12 de abril de 2008
verdades do anoitecer
O inferno é claro e passa rápido.
O odor do vício impregna paredes.
Lembranças e impotências podem persistir.
Nada é para sempre.
Nada dura menos que o suficiente para se curtir.
Camelo já perguntou: “De onde vem a calma?”
A timidez é dádiva?
Até quando a casa materna é sua casa?
É apático e súbito o choro dos grandes garotos.
Teimar em desistir não é nada original.
Ser carnívoro de corpo e alma é uma insensibilidade prazerosa.
Luzes disformes são pretensiosas.
As Minas não são tantas quantas parecem.
Não é nada singular ser brasileiro.
Nunca desistir é buscar caminhos alternativos.
A Lua não tem luz própria e o Sol é um ditador impune.
Não existem respostas para o “ai ai”
sexta-feira, 11 de abril de 2008
felicidade
quarta-feira, 9 de abril de 2008
disforme
Nem falta de sexo
Não é doença
Muito menos ausência
Não é sede
Não é dor
Nem é pecado
Nada do passado
Nada relativo a amor
Nem instinto
Nem pesadelo
Quem dera fosse sonho
Mas não é
Nada de nostalgia
Nem presença
Não é excesso
Nem insucesso
Nem sensação
Não fere
Não embriaga
Nem cansa
Não confunde
Não sufoca
Nem deixa à vontade
Não se escolhe
Nem se obriga
Nem tem continuidade
Do fim não sei
quarta-feira, 2 de abril de 2008
sobre o que sei entre você e eu
Estou aqui a um tempo pensando o que escrever. E sério, vou falar exatamente tudo o que vier em minha cabeça, sem reler, nem nada...
Eu sei que cobro muito de você. Eu sei que sou intransigente e às vezes até mesmo mal educado. Eu sei que posso ser um besta e um tremendo de um chato. Sei que num sei pedir desculpa...
Tenho cobrado bastante. Sei que você pode muito bem pensar que nunca me agrada. Mas você pode ter certeza que meus finais de semana não são os mesmos depois que te conheci. Você é muito importante pra mim e o que eu mais quero é sem dúvida seu bem... Sei que é difícil escutar "eu te amo" de minha boca, e também sei o quanto isso é importante pra vc... Importante porque vc se apresenta carente e sensível... Uma sensibilidade que não tenho... Sou frio... e mal nesse sentido.
Quando você disse que o melhor era se afastar de mim, senti um aperto tão grande que nem sei explicar.
É egoísta meu jeito de não aceitar as pessoas assim como elas são, mas eu sou assim, e preciso mudar. Vc tem me auxiliado muito nesta questão. Sei que mudamos juntos. Assim como eu fico chateado contigo, você tem todo o direito de também ficar chateada comigo por isso.
Sua carência e sensibilidade são totalmente desnecessárias. Eu sei o quanto você é forte. Muito mais forte do que imagina. Uma pessoa que viveu tudo que você viveu e tem o sorriso mais lindo do mundo?
Eu que não sei pedir perdão. Eu que não sei reconhecer meus erros. Continuo insistindo em que mude suas atitudes, pois só é assim que eu vou conseguir mudar as minhas. Preciso de sua presença que me contagia e que me faz uma pessoa feliz. Mas preciso do meu espaço e às vezes tenho mesmo essa necessidade besta de ficar sozinho.
Não quero ser o melhor amigo de todos os tempos apenas de uma última semana. Eu quero permanecer. Você nem sabe o quanto é importante. Mesmo aqui meio dopado eu te confesso que choro.
Te amo. Me entenda.
(por testemonial via Orkut a uma pessoa muito importante pra mim)
terça-feira, 1 de abril de 2008
depois de antes
Do ontem, do hoje e do agora...
Por linhas brancas e tortas...
Buscando em amizades passadas
Verdades insatisfeitas
Eu vou fugir de mim...
Vou escolher cantos e escombros
Na beleza dos lotes baldios
Comer a fome do lixo
Beber do esgoto do paraíso
Esconder meu riso
Eu vou fugir...
com beleza putrefaça
num vôo sem asa
num medo da raça
num devir benévolo do qual nem sei.
segunda-feira, 31 de março de 2008
ficção do ineditismo imprudente
casus belli
( (Lat. /cásus béli/))
sm. 1 Jur. Qualquer incidente capaz de provocar uma declaração de guerra.
É assim que me sinto. Numa constante probabilidade de mudanças radicais de humor. Instável. Eu confesso que minha condição bipolar proporciona situações de conflito internas que causam uma dor incessante. Fatos pequenos eu sei, mas que no meu subconsciente alcançam magnitude que não me permitem nem ao menos sorrir. O que me proporciou prazer outrora, agora me proporciona um desprezo descomunal. Não há o que classifico como inegavelmente bom, nem algo que possa repudiar completamente. Isso me fragiliza muito. Minhas relações sociais tem sido muito prejudicadas, eu admito. Eu não sou a melhor companhia e peço desculpas a quem convive comigo por isso.
Talvez o melhor mesmo seja este passo sem tocar o chão.
domingo, 30 de março de 2008
inverdades sobre o ser amado
Viscosidades intencionais na fala
Mimetismo sincrético na luminosidade absoluta
Degradação do sublime indiferente
Luas do silêncio da felicidade medíocre
Sois da festa do luto dissimulado
Quantas vezes eu fui feliz por ter você?
quarta-feira, 26 de março de 2008
amigos que sabem de clarice
Seja o que você quer ser,
porque você possui apenas uma vida e nela só se tem uma chance
de fazer aquilo que quer.
Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.
Dificuldades para fazê-la forte.
Tristeza para fazê-la humana.
E esperança suficiente para fazê-la feliz.
As pessoas mais felizes não tem as melhores coisas.
Elas sabem fazer o melhor das oportunidades que aparecem em seus caminhos.
A felicidade aparece para aqueles que choram.
Para aqueles que se machucam.
Para aqueles que buscam e tentam sempre.
E para aqueles que reconhecem a importância das pessoas que passam por suas vidas.
...
...
...
Ah... eu já chorei tanto, me machuquei e nem foi pouco... tento sempre... as pessoas não passam permanecem... onde está a felicidade Clarice? Onde ?
terça-feira, 25 de março de 2008
panapaná incoerente
a cidade encontra indiferente
a adaptável beleza da honestidade
naquela incoerência,
um tchau.
Sim, a bur(r)ocracia confia em mim.
Haviam muitas leis.
Certo de que morri.
Vou ao banheiro,
com respostas de amanhecer.
A febre faz-me cafuné.
A libido da aguardente,
transforma a panapaná em lixo,
xenofobia do nômade em lírio.
O sim que desengana,
na palavra que fica.
quinta-feira, 20 de março de 2008
demos
ninguém enfrenta a máscara democrática...
... obrigado Iá, caminhamos contra o vento, hoje não usamos lenço, temos documento... mas eu vou viu... eu vou....
...
..
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Secos e molhados - Rondo do Capitão
Bão balalão,
senhor capitão.
tirai este peso
do meu coração.
não é de tristeza,
não é de aflição:
é só esperança,
senhor capitão!
a leve esperança,
a área esperança...
área, pois não!
peso mais pesado
não existe não.
ah, livrai-me dele,
senhor capitão!
quarta-feira, 19 de março de 2008
quem sou eu
terça-feira, 18 de março de 2008
barbárie cotidiana
Imitação pedante das montanhas de lá
Gratidão às doutrinas discutíveis
Destruição natural da natureza que não é divina
Virtudes cheias de cobiça
Os amigos de ontem e o sexo de hoje
Opção da vergonha do filho, refletida na pupila do pai
Abnegação impiedosa da pré-moral instintiva.
Hábitos poderosos nos jejuns impostos e recorrentes
Saudades idealistas e afeminadas
Autodesnudamento do choro que não consigo justificar
Omissão no privilégio raro das máscaras que não refletem.
Eu confesso o eterno mal-entendido.
O silêncio do jogo
O sofrimento que ele proporciona.
Nem Patrocínio
Nem Ouro Preto
Nem feliz
Nem triste
segunda-feira, 17 de março de 2008
meu tamanho
domingo, 16 de março de 2008
o menino e o cavalo
Do imediatismo: um atropelamento. Não. Era somente cansaço, fome e o olhar estava justificado. No lombo sobre as costelas espostas pela fome, as marcas da carroça de material reciclável que se encontrava um pouco afastada, com um amontoado de papelão que saltava as vistas, decorada de cartazes de antigas revistas masculinas.
O animal tentava se recompor a todo custo e nesta tentativa inútil cada vez mais se feria. A cena doia muito. E o olhar do jovem, digo, criança que se encontrava ao lado refletia toda aquela situação. Era medo? Dor? Pesar? Ou simplismente uma tentativa de sobreviver numa conjuntura desigual.
Eu tive vergonha dos meus cartões de crédito, da minha cerveja de final de semana, de minhas roupas, de minhas ambições, de minha formação, tive vergonha de mim mesmo e tive vergonha não só por mim mas por todos que ali se aglomeravam.
Nos últimos dias tenho sentido uma impotência fremente.
E o menino e o cavalo ? Não sei. Há coisas que realmente é melhor esquecer. A única certeza que tenho é o amor que ele tem por aquele pobre cavalo e o ódio que ele sentiu do meu olhar.
sábado, 15 de março de 2008
rotinas
longe de tudo
"Deus lhe deu inúmeros pequenos dons que ele não usou nem desenvolveu por receio de ser um homem terminado e sem pudor"
quarta-feira, 5 de março de 2008
.. por baixo...
E como tudo é tão belo e triste de lá. É como se pudesse tocar a mão do Deus que não acredito completamente. E este mero toque me permite julgar. Julgar o quanto somos capazes de tornar tudo tão feio. Como somos capazes de transformarmos tantas perfeições em meros objetos a nosso favor. E é assim que me torno cada vez menor e percebo o quão longe estamos de ser seres perfeitos.
Por alguns momentos me senti tão ínfimo que sumi. Retornei melhor, mais consciente sobre o que devo fazer... mas tão impotente.
terça-feira, 4 de março de 2008
algo a dizer..
Quero expor idéias, contrariar... não dizer apenas o que se quer ouvir... vomitar o que penso... mas às vezes por aqui (mundo real) eu calo. Não sou exato, cometo erros, mudo de idéia e também sou capaz de me arrepender. Tenho muitos defeitos! Muitos mesmo... e assumo a responsabilidade por eles.
Não conheço muito meus limites, ignoro minhas responsabilidades e vivo num "foda-se" eterno. Hoje foi um dia difícil. E talvez seja por isto que resolvi iniciar este processo. Pode ser que amanhã eu desista e nunca mais utilize este espaço.
Aos que resolverem perder seu tempo... enjoy.
ventava
no momento irregular da fala
no oposto singular do inquestionável
na vontade de gritar
ventava
nos dias frios e quentes no alvorecer
ventava
só sei que o irregular
não é esperar o tempo
implorar a volta ao passado
mas sim reclamar do ontem
que ainda não veio
dos sentimentos que não queremos
dos momentos que passamos e não vivemos
prás bandas de lá ventava
ventava saudade
ventava coisas que não explico
e o vento leva tudo que não queremos apagar