“A vida não passa de uma oportunidade de encontro; só depois da morte se dá a junção; os corpos apenas têm o abraço, as almas têm o enlace.” Victor Hugo
O mais perto que perdi foi um gato que me acompanhava nos estudos adolescentes.
Lidar com perda é estranho.
Saber que a perda está tocando a campainha é mais estranho ainda. Dá vontade de pedir para que ela toque a campainha e corra muito.
Fugir desta consciência é covarde.
Eu me sinto culpado por não lembrar dos últimos momentos que passei com minha avó materna.
Mas eu lembro da comida de fogão de lenha dos domingo.
Eu lembro do jiló e do quiabo.
Eu lembro de não misturar manga com leite.
Eu lembro do receio de cobra quando ia pescar no córrego.
Eu lembro dos presentes de aniversário e natal.
Eu lembro das viagens a Unaí.
Eu lembro da ausência em Ouro Preto.
Eu lembro das aulas em momentos inoportunos.
Eu lembro da perspicácia geográfica.
Eu lembro dos caminhos da roça.
Eu lembro das moedas que ganhei para comprar bala.
Eu lembro de um amor que não sei explicar
Eu lembro de gritar vó.
Eu lembro de festas de fim de ano infelizes.
Eu sinto o gosto do biscoito de polvilho azedo.
Eu lembro de todos os deslaços familiares.
Eu lembro de rolar de rir na varanda da casa.
Eu lembro dos dias que doava meu quarto.
Eu lembro das lágrimas raras de minha vó e do dia que ela chorou ao ver a imagem da mãe que perdeu tão cedo.
Eu me recordo de seu medo de cemitério.
Eu me recordo de todas as vezes que senti vergonha ou saudade.
Eu escuto a TV anunciar os números da Telesena.
E como se estivesse lá…
eu sinto seu momento frágil
e eu sinto um desvair lento
Eu sinto o desvair lento.
E assim de repente minhas lágrimas descem pelo rosto.
“Ela precisa descansar”
E recordar a fala de minha mãe dói de uma maneira estranha.
Tão sem palavras pra descrever.
Vovó.
Assim como fechar a porta daquela casa.
Assim como ver o mato alto e a ausência de madeira para o fogão de lenha.
….
não sei como terminar
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